Movimentos sociais prometem ofensiva em agosto
Ações são programadas por coordenação recém-criada que reúne desde MST e CUT até pequenos grupos
Os movimentos sociais pretendem intensificar suas ações em todo o País a partir de meados deste mês, com o objetivo de levar o governo a dar maior atenção à agenda de problemas sociais. A nova ofensiva está sendo articulada pela recém-criada Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que reúne entidades já bastante conhecidas, entre elas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Sem-Terra (MST), ao lado de outras emergentes, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o dos Trabalhadores Desempregados (MTD), passando por dezenas de associações de defesa dos interesses dos estudantes, negros, advogados, índios, mulheres, pequenos agricultores, juízes e professores.
A criação da CMS foi selada numa reunião realizada em São Paulo no sábado, dia 26. Ficou definido que funcionará como um fórum, só adotando atitudes consensuais, com o objetivo de unificar as ações dos movimentos. Na semana passada também ficou acertado que o desemprego será o primeiro alvo das ações da coordenação.
Para agosto e setembro estão previstas assembléias populares, marchas e concentrações em diversas capitais, com o propósito de chamar a atenção para o problema do desemprego. Paralelamente, a coordenação vai apoiar as ações do MST que já estão em curso. Acredita-se que a reforma agrária e o apoio à agricultura familiar constituem um dos mecanismos mais eficientes e baratos ao qual o governo pode recorrer para gerar emprego a curto prazo.
Apoio - Não se deve pensar, segundo os idealizadores da nova frente, que seu objetivo seja enfraquecer Lula. De acordo com sua lógica, trata-se do oposto. “Queremos dar apoio ao presidente para que possa executar as mudanças que estavam na base de sua campanha, como a geração de emprego, o desenvolvimento econômico e a soberania nacional”, diz Ricardo Gebrin, presidente do Sindicato dos Advogados no Estado de São Paulo. “Vamos ajudar o Lula a colocar em andamento um plano de desenvolvimento econômico com inclusão social”, insiste Paulo Becker, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTB).
Na opinião de líderes dos movimentos, as alianças feitas pelo PT para chegar ao poder começam a se esgarçar e o cenário político fica dividido em dois campos: o dos que desejam a continuidade do modelo econômico e o dos que buscam mudanças. “Um pensa o Brasil social e o outro é o da continuidade”, diz Gilmar Mauro, do MST. O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, d. Tomás Balduíno, é enfático: “O governo está sitiado pelas alianças. É preciso quebrar essas amarras.”
Conjuntura - A decisão de criar a CNS, que substitui um fórum semelhante que funcionou até 2000, teria sido acelerada por causa de fatores conjunturais. Um deles foi a ênfase dada pelos meios de comunicação às ações dos sem-terra.
Entre líderes de movimentos sociais consultados pelo Estado, foi recorrente a conclusão de que se trata de uma ação articulada, destinada a criminalizar os movimentos sociais e indispô-los com o governo. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Lemos Petta, acredita que os grupos que terão os interesses contrariados, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começar a ouvir menos o mercado e dar mais atenção à questão social, se articulam para impedir as mudanças.
Para o sindicalista Antonio Carlos Spis, da CUT, os ataques ao MST visam um alvo mais amplo: “Além de evitar a democratização do acesso à terra, querem mostrar ao Lula que não aceitam mudanças no modelo que deixou milhões de pessoas desempregadas.”
Risco - O deputado Ivan Valente, da ala radical do PT, acredita que a articulação dos movimentos pode levar Lula a implantar o projeto original do partido, de crescimento com distribuição de renda. “O governo se meteu numa armadilha quando agradou ao mercado e rompeu com aliados estratégicos, como o funcionalismo público. Está na hora de tirá-lo dessa armadilha.”
Os líderes dos movimentos acreditam que terão facilidade para mobilizar a população, em decorrência da confiança que ainda existe nos propósitos de mudança de Lula e da deterioração das condições sociais.
O risco da ofensiva que pretendem desencadear é o de não ficar claro para a população que a contestação das medidas econômicas de um governo significa apoio a esse governo. “Vamos andar no fio da navalha”, admite Spis.
De imediato, o principal beneficiário da CNS será o MST, que, não por acaso, foi um dos principais articuladores da nova organização. O apoio unificado e declarado dos movimentos sociais aos sem-terra deve dar mais fôlego à organização.