MST invade, depreda e incendeia fazenda em PE
Ação destruiu 4 casas, 1 galpão e 13 máquinas agrícolas, com prejuízo estimado em R$ 1 milhão
ÂNGELA LACERDA
TRACUNHAÉM - Ainda era escuro, antes das 5 horas, quando cerca de 250 trabalhadores sem-terra armados com foices, facões, enxadas e pedaços de pau invadiram ontem a sede do Engenho Prado, no município de Tracunhaém, a 65 quilômetros do Recife, e utilizando tochas e coquetéis Molotov incendiaram 4 casas (entre elas a casa-grande), um galpão, 13 máquinas agrícolas - 6 carregadoras, 6 tratores e 1 retroescavadeira - e 15 bombas pulverizadoras. O prejuízo foi estimado em R$ 1 milhão. Os 14 vigilantes e policiais militares que guardam o local há dois meses nada fizeram para barrar os trabalhadores.
A ação envolveu cerca de 2 mil sem-terra ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetape).
Pertencente à Usina Santa Teresa, do Grupo João Santos, o Engenho Prado é uma das áreas de conflito de terra mais antigas de Pernambuco. Tem cerca de 800 hectares e é reivindicado por 300 famílias que vivem em três acampamentos desde 1997. O presidente Fernando Henrique chegou a assinar o decreto de desapropriação da área, mas o proprietário conseguiu anular o ato com recurso no Supremo Tribunal Federal e aguarda julgamento de ação de reintegração de posse. Os acampados vinham sobrevivendo da lavoura de subsistência vendida em feiras da região. Há dois meses o conflito se intensificou e várias denúncias foram feitas relativas à destruição das lavouras e ameaças por parte de seguranças da empresa.
Os sem-terra também arrancaram ontem a plantação de cana-de-açúcar que vem sendo cultivada desde março. Os bóias-frias contratados para o serviço foram impedidos de trabalhar. Em mutirão, os sem-terra voltaram a plantar feijão e milho. “Viemos prestar solidariedade aos trabalhadores e protegê-los, pois estamos sabendo que iam destruir os acampamentos”, explicou o líder do MST, Jaime Amorim.
“A situação é explosiva e pode não se restringir a danos materiais”, disse o superintendente-regional do Incra, João Farias, que não foi recebido pelos trabalhadores. “É uma situação difícil, que só se resolve quando se der a terra.” Farias frisou já ter tentado falar com a usina, mas a empresa não quer acordo. Hoje, o ouvidor-geral do Incra, Gersino Silva, visita o local.
Acusados - O delegado de Tracunhaém, Jandir Carneiro Leão, que também não conseguiu falar com os sem-terra, abriu inquérito e disse que quatro pessoas são apontadas como incitadores da ação:
o padre Thiago Thorlby, da CPT, a líder do MST Luíza Ferreira da Silva, o sem-terra João Tomaz de Aquino e a deputada estadual do PT, Ceça Brito.
Ceça disse ter chegado ao local às 8 horas, depois da destruição, “para dar apoio aos trabalhadores que tomam suas decisões em assembléia”. O padre Thiago afirmou que a revolta dos trabalhadores eram “um basta a João Santos, conhecido como João Satanás, um latifundiário caloteiro que deve R$ 53 milhões ao INSS”.