O Acampamento Chico Mendes, que há mais de 77 dias luta por moradia digna
e justiça social, está prestes a ser despejado. Nós que, com uma
comunidade exemplar e digna, ocupamos um latifúndio urbano endividado e
abandonado em Taboão da Serra, estamos indignados. Nossas mais ou menos
900 famílias de lutadores e lutadoras, homens, mulheres, crianças e idosos
estão ameaçadas de sofrer uma terrível tragédia social. Ali, onde erguemos
nossos sonhos pela autorganização, o poder público quer com o
autoritarismo resolver a falta de moradia. Um poder historicamente
negligente com o povo pobre de seu país, que não cumpre com os direitos
humanos básicos de qualquer criatura, de qualquer cidadão – como moradia,
saúde e educação – quer despejar pela força bruta crianças e famílias que
viviam de forma absolutamente indigna e que em nossa comunidade
descobriram um novo horizonte de resistência – seja nos shows de hip hop,
na ciranda das crianças e nas peças de teatro, construíndo através do
debate sua emancipação.
Causa-nos horror pensar que a prefeitura da cidade de Taboão da Serra e a
justiça insensível não se comprometem nem em cumprir com as exigências
básicas, como encontrar alojamentos e espaços de abrigo que um número
enorme de nossas famílias. Seres humanos que simplesmente não tem para
onde ir serão jogados no olho da rua em pleno natal! É este o natal que
oferecem às nosssas 1300 crianças esses governos?
O Poder Judiciário é cego para os problemas socias de seu povo, mas
enxerga muito bem, até de baixo d’água, os interesses dos ricos e
poderosos. Negou um pedido de adiamento da reintegração de posse feito
pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, colocando assim o direito à
propriedade sem função social – o direito a um inútil latifúndio urbano
que servia apenas para especulação imobiliária e para o abandono da cidade
– acima da esperança de vida digna de centenas de trabalhadores e
trabalhadoras que lutam por um direito essencial. Um estado que planta
exclusão só pode colher violência. Criminosos são os latifúndios e a
poderosa elite desse país, que simplesmente nunca pagou devidamente seus
impostos e nunca cumpriu com seus deveres fiscais. Agindo assim, o Poder
Público somente aumenta o problema da moradia, quando poderia tomar uma
importante decisão rumo à melhoria das vidas de milhares de cidadãos.
Conforme acordado em reunião com o comando da PM, haverá despejo integral
pelo menos até quarta feira que vem (21/12). Estamos extremamente
preocupados, pois não adquirimos garantias absolutas da preservação da
integridade física de nossas famílias. Pedimos solidariedade absoluta à
nossa legítima causa. Fomos rechaçados por todos os poderes. O prefeito
Evilásio diz que somos página virada, e percebemos nele, no governo do
estado e no governo federal que nossa república virou as costas para nós.
Perguntamos: onde está o financiamento habitacional que nos prometeu o
Ministério das Cidades? Onde ficou a tão propagandeada política
habitacional que nos prometeu o Governo do Estado? Onde ficou o respeito
que o prefeito municipal e as outras esferas de governo deveriam ter pelos
cidadãos que eles representam? Perguntamos a vocês, pois acreditamos que a
página não foi virada, se não que ela está sendo escrita agora pelo nosso
exemplo e pela nossa luta!