Clajadep :: Red de divulgación e intercambios sobre autonomía y poder popular

Imprimir

Manifiesto del pueblo Guaraní Kaiowá

16.01.06

12/01/2006
Manifesto do Povo Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul

para as autoridades, para o povo brasileiro

e pessoas de boa vontade do mundo inteiro

mais do que um grito de denúncia e esperança, mais do que dizer que, depois de quinhentos anos de invasão, massacre e derramanento de sangue do nosso povo, estamos vivos lutando por nosso direito de continuar sendo Kaiowá Guarani,

mais do que dizer que estamos confinados em pequenos pedaços de terra, como em prisões, sofrendo todo tipo de violências,

mais do que denunciar que nossas crianças estão morrendo de desnutrição, que nossos jovens estão se suicidando por falta de perspectivas de futuro, e nossos líderes sendo ameaçados e assassinados,

queremos exigir nossos direitos à vida digna, a continuar vivendo nosso sistema Guarani, ter autonomia e liberdade em nossas terras e viver em paz.

Exigir respeito à Constituição brasileira e às leis internacionais que nos protegem, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

Por isso estamos fazendo essa grande manifestação aqui em Dourados, vamos fazer uma Grande Assembléia Guarani dos cinco países (Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai) no início do próximo mês de fevereiro, em memória dos 250 anos do assassinato do grande guerreiro do nosso povo Sepé Tiaraju, vamos para todos os lugares do Brasil e do mundo que for necessário para dizer que nós Kaiowá Guarani, como todos os índios do Brasil estamos dispostos a lutar para mudar essa situação de injustiça e massacre e conseguir que sejam colocados em prática e respeitados os nossos direitos.

Exigimos do Estado brasileiro, através de seus poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que ponham em prática os nossos direitos constitucionais e originários como povo indígena Guarani Kaiowá, como cidadãos brasileiros e como habitantes primeiros dessa terra.

Pedimos agilidade no reconhecimento, delimitação, demarcação, homologação e respeito às nossas terras tradicionais, os mais de cem tekoha-terra Gurani - neste Estado.

Pedimos que sejam rapidamente julgados e punidos os responsáveis pelo assassinato de vários dos nossos líderes, nesses últimos anos, como Marçal de Souza (Campestre/Nhanderu Marangatu-23/11/1983), Samuel Martins (Kajari-26/02/2000), Marcos Veron (Takuara-13/01/2003), Dorival Benitez (Sombrerito-26/06/2005) e Dorvalino Rocha (Nhaderu Marangatu-24/12/2005). A impunidade tem sido a causa de mais violências, ameaças e assassinatos.

Chega de sermos expulsos de nossas terras, jogados nas beiras das estradas ou amontoados nos confinamentos e nossos lideres assassinados! Achamos uma absurdo o que fizeram recentemente com nossos irmãos no Nhanderu Marangatu. Não só expulsaram eles de uma terra já homologada pelo Presidente Lula, como assassinaram uma liderança e continuam ameaçando as famílias que ali vivem.

Exigimos que sejam discutidas com nosso povo e implementadas políticas públicas eficazes e articuladas com os diversos ministérios e órgãos em diálogo e cooperação com as entidades indigenistas e aliados nossos.

Não queremos mais estar nos meios de comunicação pela morte de nossas crianças por desnutrição, pelas violências e assassinatos, pelos suicídios e homicídios, pela fome ou caridade. Somos um povo que tem uma história de luta, valores e nosso projeto de futuro, de continuar nossa vida Guarani.

Por isso fazemos esse apelo às autoridades, ao povo brasileiro e pessoas de boa vontade do mundo inteiro, nesse início de mais um ano, e vamos continuar nossas lutas e manifestações, contando com o apoio e compreensão de sempre mais gente neste planeta Terra.

Dourados, 11 de janeiro de 2006.

POVO GUARANI REALIZA MANIFESTAÇÃO EM DOURADOS

Cerca de 700 Guarani, vindos de 10 aldeias do Mato Grosso do Sul, realizaram ontem, 12, uma manifestação em Dourados, a 221 km de Campo Grande, pelo fim da violência, pela punição dos assassinos de Dorival Benitez, morto durante uma retomada da terra Sombrerito, em 26 de junho de 2005, e de Dorvalino Rocha, de 39 anos, assassinado na véspera de Natal, no local onde os Guarani da terra Nhande Ru Marangatu estão acampados depois de terem sido despejados de sua terra homologada. A outra reivindicação estava ligada à demarcação de terras deste povo no Mato Grosso do Sul.

A manifestação começou no início da manhã em uma praça de Dourados. Ali, encontraram-se indígenas de aldeias distantes que vieram de ônibus e cerca de três centenas de indígenas que vivem nas aldeias Jaguapiru e Bororo, que ficam próximas a Dourados. Depois, a caminhada passou pelo Ministério Público Federal, onde entregou carta ao procurador da República, Dr. Charles Motta Pessoa, agradecendo por sua atuação na defesa dos direitos indígenas. Parte do grupo seguiu até o prédio da Justiça Federal, onde tiveram audiência com o juiz Roberto Pollini, que decidiu sobre o despejo do grupo de Nhande Ru Marangatu. De acordo com a equipe do Cimi no MS, o juiz comprometeu-se a dar encaminhamentos necessários para que sejam feitas perícias nas terras Sucuri´y em Nhande Ru Marangatu para levantar o custo de indenização das benfeitorias.

Brasília, 12 de janeiro de 2006.

Cimi – Conselho Indigenista Missionário

De Indymedia Brasil
Nhanderu Marangatu: Vitrine das terras indígenas no Mato Grosso do Sul
Por Egon Heck - Cimi MS 15/01/2006 às 15:56

Incômoda, sem dúvida. Indesejável, para muitos. Abominável para outros. Essa talvez seja a realidade que espelham as dezenas de precários barracos na beira da MS 384, que abrigam algumas centenas de crianças, jovens, adultos e velhos Guarani Kaiowá, desde o dia 15 de dezembro, quando foram despejados, com aparato de guerra. Por esta razão já foram feitas inúmeras propostas para remover, esconder, acabar com essa vitrine reveladora de uma das situações mais dramáticas de negação de terras indígenas no país.

Por ali transitam diariamente centenas de carros donde partem curiosos olhares sobre aquele amontoado de improvisadas lonas pretas e gente. Por ali passam diariamente centenas e talvez milhares de bois rumo aos abatedouros ou outras fazendas. Por ali fluem grandes caminhões ostentando progresso da fronteira sul mato-grossense, expondo a cruel contradição entre a acumulação da riqueza em poucas mãos e a miséria da maioria.

A vitrine certamente será cuidadosamente evitada pelo juiz Roberto Polini, que concedeu a liminar do despejo dos Kaiowá Guarani.

Ela estará, com certeza, longe do roteiro de viagens dos desembargadores do Tribunal Regional Federal, que mantiveram a decisão da reintegração de posse em favor dos fazendeiros.

O então presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, com certeza fugirá de qualquer possibilidade de aproximação da estrada onde está o acampamento indígena de Nhanderu Marangatu.

Para muitos é a vitrine de uma vergonha nacional. É o local que lembra a assinatura de homologação da terra indígena pelo presidente da República e a sua anulação por decisão de um juiz do STF

É mais um dentre as dezenas de acampamentos indígenas e não indígenas prensados entre a soja e o asfalto ou entre as cercas e as estradas no Mato Grosso do Sul.

Mas ela é também o símbolo da luta heróica de um povo pelos seus direitos, pelo seu tekohá, pelo seu pedaço de chão para viver. Ali pelo menos cinco indígenas foram assassinados na luta pela terra. Ali tombaram Marçal de Souza e há poucas semanas, Dorvalino da Rocha. Ali está uma escola de guerreiros e lutadores do direito, com alunos e professores profundamente comprometidos na luta presente e futura.

Ela é a ferida exposta de uma negação sistemática da terra aos Kaiowá Guarani, visibilizada no site da organização do agronegócio e dos fazendeiros, onde consta uma listagem em que estão já previstas colunas para entrada na terra(que eles chamam de invasão, os sem terra falam de ocupação e para os índios é retomada de suas terras tradicionais) e data da expulsão. Ela é reveladora das centenas de ações tramitando na justiça que visam impedir aos índios o direito a seu pedaço de chão. Ela é indicadora de um processo que alguns analistas tem caracterizado como “situação de etnocídio”.

Para terça feira, dia 17 de janeiro está anunciado o despejo dos índios Terena de Cachoeirinha, do Acampamento Mãe Terra. Até quando? Em fevereiro invocaremos São Sepé Tiaraju e seus mártires guerreiros para voltar ao chão sagrado e converter a vitrine em memorial da resistência, da esperança e do futuro.

Email:: egonheck@hotmail.com
URL:: http://www.cimi.org.br/


https://clajadep.lahaine.org