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Comunidades brasileñas indignadas porque Conferencia de Salud Indígena será realizada en resort de lujo…

27.03.06

Conferência milionária revolta índios

Evento que vai discutir os rumos da saúde indígena no País será realizado em resort de luxo

A saúde indígena está em pauta nessa semana. Entretanto, o debate não está agradando aos mais interessados no assunto: os índios. Enquanto a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) prepara a 4ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, representantes de diversas etnias dizem que o dinheiro gasto na convenção poderia ser destinado ao combate de doenças.

A Conferência de Saúde Indígena acontece entre os dias 27 e 31 de março em um dos mais sofisticados hotéis de lazer do Centro-Oeste. A Pousada do Rio Quente é um badalado resort localizado a 31 quilômetros do município de Caldas Novas, em Goiás. Serão cerca de 1 mil participantes durante os cinco dias do evento. Desses, 600 são delegados indígenas. As diárias do resort variam entre R$ 360 e R$ 426 por pessoa, dependendo do tipo de acomodação. Somente em hospedagem, estima-se um custo mínimo de R$ 2,5 milhões. A assessoria de comunicação da Funasa informa que o investimento aplicado na Conferência não será divulgado, visto que é assunto de interesse interno da Fundação.

O que as lideranças indígenas denunciam (cujos nomes e Estados de origem serão mantidos em sigilo) é que a indicação dos delegados para a Conferência passa pelo crivo de funcionários da Funasa ou da Fundação Nacional do Índio (Funai). ‘Os delegados são apenas pessoas que já pertencem à Funasa e que não vão apontar as falhas. Existem índios manipulados pela Funasa, da confiança deles. Não vai quem quer não! Caldas Novas não é lugar para fazer a convenção. Tinha que ser em Brasília, perto do poder, da imprensa e da solução para os nosso problemas. A questão da saúde indígena está uma total vergonha’, acusa um dos representantes da etnia Pancararu.

Já o representante dos Terena diz que os delegados são indicados também pela Funai, através da coordenação de defesa indígena. ‘O índio recebe tudinho, despesas, direito a ficar no hotel, pago pela Funasa’. Um representante Tupinambá e um da etnia Kayapó endossam que a destinação do dinheiro para a realização do evento seja impróprio diante da crise. As 1.330 vagas disponibilizadas no resort já foram preenchidas.

A intenção do governo federal é anunciar as medidas e os resultados das ações da Funasa no período entre 2000 (quando assumiu a gestão de saúde) e 2005. O presidente do órgão, Paulo Lustosa, fará a abertura oficial do evento que contará também com a presença do ministro da Saúde, Saraiva Felipe. Na ocasião, será assinada portaria que institui o Fórum Permanente de Presidentes de Conselho Distrital Indígena, a ser constituído legalmente, com direito a orçamento próprio.

O evento promovido pela Funasa ainda contará com extensa programação cultural, com danças típicas, mostra de cinema e cerimônias de benzimento feitas pelos pajés.

Os principais temas da Conferência desse ano serão o Direito à Saúde, o Controle Social e Gestão Participativa, os Desafios Indígenas Atuais, a atuação dos Trabalhadores Indígenas e Não-Indígenas de Saúde, além da Segurança Alimentar e Nutricional e Desenvolvimento Sustentável.

Temas esses cujas soluções ainda não foram encontradas nestas duas décadas. As políticas (ou a falta de políticas) de saúde para os índios resultaram em, dentre outros escândalos, registros de morte de crianças por desnutrição no Mato Grosso e o aumento de 164% nos casos de malária dentre os Yanomami da Região Norte.

Casa de Icoaraci foi reformada após denúncias e pressão de manifestantes

A Casa do Índio de Brasília é um dos exemplos da falta de recursos. Além das péssimas condições de infra-estrutura, os indígenas reclamam a falta de atenção básica de saúde para quem precisar permanecer na capital. O rompimento da fossa séptica que veio a desaguar os coliformes fecais justamente na cozinha onde são preparadas as refeições dos ‘hóspedes’ indígenas impede a alimentação adequada e ameaça a saúde de todos.

Um caso emblemático na área da saúde é o da indiazinha Tititu, da tribo Suruwahá, do Amazonas. Após idas e vindas entre São Paulo, Manaus e Brasília, a pequena hermafrodita retornou à aldeia depois de uma operação para solucionar o problema de nascença. Tititu nasceu hermafrodita e seria sacrificada. A menina fez a cirurgia corretiva, porém, precisa de medicamentos diários para não morrer, devido ao desajuste hormonal.

A coordenação da Funasa no Amazonas assumiu a responsabilidade de levar o medicamento necessário a Tititu. Porém, em campanha motivada pelo gabinete do deputado federal Pastor Reinaldo (PTB-RS) aponta que o medicamento não chegou à aldeia e que Tituti já está sem o remédio desde ontem. Em apenas três dias a criança correria o risco de morte súbita. Entretanto, o remédio leva dez dias para chegar à aldeia se levado por via fluvial a partir de Manaus.

Coliformes fecais na cozinha

A Casa do Índio de Brasília é um dos exemplos da falta de recursos. Além das péssimas condições de infra-estrutura, os indígenas reclamam a falta de atenção básica de saúde para quem precisar permanecer na capital. O rompimento da fossa séptica que veio a desaguar os coliformes fecais justamente na cozinha onde são preparadas as refeições dos ‘hóspedes’ indígenas impede a alimentação adequada e ameaça a saúde de todos.

Um caso emblemático na área da saúde é o da indiazinha Tititu, da tribo Suruwahá, do Amazonas. Após idas e vindas entre São Paulo, Manaus e Brasília, a pequena hermafrodita retornou à aldeia depois de uma operação para solucionar o problema de nascença. Tititu nasceu hermafrodita e seria sacrificada. A menina fez a cirurgia corretiva, porém, precisa de medicamentos diários para não morrer, devido ao desajuste hormonal.

A coordenação da Funasa no Amazonas assumiu a responsabilidade de levar o medicamento necessário a Tititu. Porém, em campanha motivada pelo gabinete do deputado federal Pastor Reinaldo (PTB-RS) aponta que o medicamento não chegou à aldeia e que Tituti já está sem o remédio desde ontem. Em apenas três dias a criança correria o risco de morte súbita. Entretanto, o remédio leva dez dias para chegar à aldeia se levado por via fluvial a partir de Manaus.

‘Qualidade’ foi uma exigência

A realização da Conferência no resort em Caldas Novas foi apontada pela representante Carmem Pancararu como uma solicitação das lideranças indígenas por um evento de ‘qualidade’. Carmem coordena o Fórum dos Presidentes, que reúne os 34 Distritos Sanitários Indígenas (Dseis) em todo o País e ressalta que ‘a Funasa, inclusive, simplesmente, acatou muitas das decisões tomadas pelas lideranças indígenas em parceria com o Conselho nacional de Saúde’.

A coordenadora, entretanto, afirma desconhecer o valor total empregado pela Funasa para a realização do evento. Carmem alega que ‘me causa estranheza depoimentos dessa natureza. São pessoas que não estão vivendo nas bases’. A coordenadora destaca que a realização da Conferência é resultado de cinco anos de debates em todas as instâncias, sempre a parti das bases e pela primeira vez chega-se à realização de um evento com a ‘total participação indígena em todo o processo’.


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