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Anotações sobre as manifestações de 8 de março de 2007 em Belo Horizonte

10.03.07

Por André Duarte 09/03/2007 às 18:57
Indymedia Brasil

Impressões de um participante das manifestações do dia 8 de março de 2007 em Belo Horizonte.

Che está morto! Faça você mesmo a sua revolução!

Aqui em BH fomos quase 2.000 mil pessoas cortando o Centro da cidade em direção ao Palácio da Liberdade. Achei bom… Desde 1998 que eu não via ou participava de uma mobilização com número ao menos razoável de pessoas e tantos movimentos unidos: dos punks às mulheres camponesas, das lésbicas aos partidos políticos de esquerda e movimentos estudantis, anarquistas, comunistas e outros mais moderados, sem-terra, sem teto, atingidos por barragens, vítimas da violência etc etc… Vivi momentos de um êxtase quase religioso (sim! foi incrível perceber isso!, mas é a verdade!)…

A grande mídia não mostrou quase nada… Os canais que não mostraram a manifestação apenas como a marcha das mulheres (foi uma marcha de “todos” os movimentos, de quem defende e quer fazer um mundo mais justo), regozijaram-se em mostrar uma ou outra cena de violência simbólica de policiais e manifestantes… Havia muito mais a ser mostrado, havia tudo aquilo que nos faz humanos: cinismo, hipocrisia, alegria, esperança, indignação, jovens adolescentes urbanas e senhoras camponesas, homens e mulheres, palavras de ordem compartilhadas e uma população entre apática e surpreendida; entre irritada e comemorativa… alguns xingavam, outros engrossavam o coro da manifestação com o som das suas buzinas, outros ainda acenavam das janelas e cobriram parte do trajeto com uma chuva de papel picado e aplausos…

Isso a grande mídia não mostra… Mostrou apenas o “caos no trânsito” provocado pela manifestação… E aqueles que estão presos à imediaticidade e à concretude de suas vidas reclamam, pois isso lhes atrapalha… Precisam trabalhar e manter seus compromissos porque precisam garantir sua subsistência… Coisa que uma imensa parte daqueles que estavam se manifestando não talvez não precisem porque já estão na miséria (tom de ironia)…

A polícia mineira perdeu mesmo o respeito pelas manifestações populares… O efetivo era ridiculamente pequeno em comparação à um agrupamento de pessoas muito maior… Não acreditavam, como muitos de nós, inclusive eu, também não acreditávamos que se pudesse juntar tanta gente de novo… Os policiais, completamente assustados, ficaram à mercê da manifestação que se realizou de forma elogiável… Autonomamente comportada, desobediente, provocadora, alegre… Tentaram em vão impedir o encontro dos diversos grupos (mais ou menos 10 ônibus das mulheres da Via Campesina foram bloqueados, parados, inspecionados; fez-se de tudo, repito, em vão, para retardá-las…

Elas chegaram à Praça da Estação e foram recebidas alegremente por todos enquanto gritavam: “Polícia, que coisa feia! Procurou foice e só encontrou calcinha e meia!”… Nos atos simbólicos em frente ao Bradesco, ao BDMG e à Acesita, a PM não pode fazer nada a não ser olhar… Em frente ao Palácio, teriam sido facilmente engolidos pela multidão, que se manifestou pacificamente…

O pau deve estar quebrando ainda hoje lá em São Paulo… E no resto do mundo… Notícias não nos chegam através das grandes mídias, mas as coisas estão quentes na Europa, na América Latina, especialmente na Colômbia, na Bolívia e no México (onde recentemente declararam uma comuna - a Comuna de Oaxaca, onde o povo se apropriou dos meios de comunicação, e expulsou a polícia e os representantes de um estado opressor… Não sei a quantas anda o povo de lá, depois de tantas e violentas tentativas de recuperação do território por parte do estado mexicano, depois de tantas mortes e pessoas desaparecidas…).

Nós aqui no Brasil ficamos vendo a grande mídia e o nosso presidente afirmarem que estamos fazendo um grande papel no Haiti e acreditamos; ignoramos que lá também pedem pela saída dos nossos soldados… A manifestação aqui ontem gritava “Fora Bush!” da América Latina e do Iraque, mas também gritou-se, e muito: “Fora Lula do Haiti!”… Um grito que nos solicita também a auto-consciência que nos garanta a condição de não sermos os oprimidos que se tornam opressores…

Outras manifestações devem acontecer ao longo deste ano… Mas aguardo com ansiedade as mobilizações mundiais no início de junho…

É bom saber que ainda há gente que se agita e se movimenta, que seja para lutar, que seja para se debater, que seja para dançar…

Grande abraço a todos,
André Duarte
Professor
Belo Horizonte ? Minas Gerais

Email:: andreigolemsky@yahoo.com.br


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