A luta dos trabalhadores em educação de Minas
Por Euler 02/07/2003 às 17:19
Indymedia Brasil
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Este relato é pessoal, colhido na participação direta que estou tendo nas lutas que os trabalhadores em educação de Minas vêm realizando. Há mais de dois meses os trabalhadores vêm organizando e praticando várias formas de luta e resistência contra o pacote que o governador Aécio Neves enviou para a Assembléia Legislativa de Minas, cortando direitos conquistados em lutas anteriores.
A mobilização, infelizmente, vem sendo conduzida - ou melhor, manipulada - pela atual direção do Sind-Ute, atrelada ao projeto político da direção majoritária do PT. O resultado tem sido manipulação durante as assembléias, rebaixamento nas palavras de ordem e nas discussões promovidas pelo sindicato, usando para isso a máquina burocrática que possui.
Apesar disso, os trabalhadores vem realizando, já há algum tempo, uma redução na jornada de trabalho, utilizando o tempo não-trabalhado para discutir com a comunidade, organizar manifestações, discutir as propostas e encaminhamentos.
Aqui, é preciso que se diga: não só a direção sindical joga na retarguada. Também uma parcela significativa dos trabalhadores ainda alimenta uma visão corporativa e até mesmo paternalista. Chegam a propor a interrupção do movimento, pois, segundo eles, isso estaria “prejudicando os alunos”. Comos se a escola pública fosse creche, para tomar conta de meninos, enquanto os pais deles são explorados pelos capitalistas. Não percebem estes trabalhadores que se trata de uma luta comum, contra o ataque dos diversos governos, a serviço dos capitalistas, contra os minguados salários e demais conquistas de todos os trabalhadores.
O plano de Aécio, muito inspirado na “reforma” de Lula - alías, diga-se, Lula já mandou os deputados do PT votarem a favor do projeto de Aécio, como, aliás, fez em SP, RS e em toda parte, na política do toma-lá-dá-cá, sempre contra os trabalhadores. O plano, como dizia, prevê a demissão em massa através de um processo de “avaliação desempenho”, que retorna com o apadrinhamento e a perseguição aos trabalhadores por parte dos chefes, em cada escola. Além disso, acaba com conquistas como biênio, triênio, quinquênio para os novos trabalhadores. Como se não bastasse, subordina qualquer reajuste salarial à possíveis superávits na arrecadação do governo, ainda assim depedendo da avaliação individual e coletiva, e desde que não supere a chamada lei de responsabilidade fiscal, que limita gastos com o funcionalismo. Ou seja, além dos 9 anos sem reajuste nos salários, os trabalhadores em educação devem penar mais um bom tempo.
Para se ter uma idéia, um professor P1 recebe algo em torno de 212,00, mais os penduricalhos que não fazem parte do salário e podem ser cortados a qualquer momento. Enquanto isso, os deputados estaduais que vão votar o pacote de Aécio recebem mensalmente algo em torno de 29.000,000 (vinte e nove mil reais). Eles tiveram, este ano, um reajuste de 60 por cento nos seus salários. O mesmo ocorreu com os demais marajás da burocracia estatal: deputados federais, juízes, vereadores de BH, etc. Os governos fazem as reformas para pagar assegurar o pagamento aos banqueiros e empreiteiras e partilham, entre os burocratas de estado, do confisco/roubo que praticam contra trabalhadores. Trata-se de várias quadrilhas de gangsteres, alguns com mandatos, outros não.
A direção sindical faz de tudo para manter a luta nos limites da reivindicação corporativa e regional. Ela repete insistentemente que se trata de uma luta contra o pacote de Aécio, mas nada diz a respeito do pacote do Governo Lula, que prevê a cobrança de inativos e a aposentadoria de professores somente após 60/65 anos. Lula, aliás, já absorvendo a lógica burguesa, usou o argumento de que se os canavieiros aposentam com 65 anos, por que motivo - perguntou ele - os professores não poderiam aposentar com idade semelhante. Ou seja, ao invés de propor um melhoramento nas condições dos canavieiros, Lula deseja que todos sofram, trabalhem o máximo e recebam o mínimo. A igualdade no sofrimento. Para os outros, claro.
Na última assembléia dos trabalhadores, realizada ontem, 01/07/2003, a direção sindical tentou novamente jogar pra baixo o movimento. Propôs a interrupção da redução da jornada de trabalho e um calendário água com açúcar. Mas o ambiente não estava para conciliação, não. A proposta foi REJEITADA e a redução de horário continua! Além disso, os trabalhadores deixaram claro que é necessário imprimir uma resistência mais radicalizada. Nas falações, em vários momentos alguns dos oradores da base colocaram a necessidade de ocupar as ruas, as praças e a própria assembléia Legislativa. Por algum milagre consegui minha inscrição para falar - digo por algum milagre, pois as inscrições são manipuladas e geralmente a palavra é garantida de forma majoritária ou quase exclusiva para as pessoas ligadas à direção do sindicato. No carro de som, disse que nossa luta é local e mundial, é uma luta dos trabalhadores contra os capitalistas e seus governos, que era preciso nos organizar pela base e arrancar, na luta, nossos interesses, e não ficar aguardando as articulações de cúpula que sindicalistas, deputados e governantes vêm realizando. Disse ainda que era preciso unificar nossa luta com outros movimentos sociais, incluindo os estudantes, ocupar as praças e não permitir que sejamos manipulados pela direção sindical, que despolitiza a luta e tudo faz para conter a nossa revolta. A direção sindical, ao meu lado, fechou a cara pra mim enquanto eu falava, mas a assembléia, com cerca de 3 a 4 mil trabalhadores, demonstrou simpatia. E é isso o que importa.
Ficou aprovado, além da continuação da redução da jornada, uma paralisação nos dias 9, 10 e 11, com realização de atos, manifestações e pressão direta. Vários companheiros estão articulando uma atuação mais radicalizada, que afaste o corpo mole da direção sindical, e que também não permita que uma parcela acomadada com o sofrimento e a exploração da categoria contagie gente que ainda tem fôlego para lutar. O importante é não aceitarmos as direções como referência para nada, pois somos nós, organizados de forma autônoma, que haveremos de dar um encaminhamento de luta que não concilie com os capitalistas. Este papo de pacto social entre patrões e trabalhadores, que a esquerda light, tipo Lula-PT-PCdoB-e-afins, vêm praticando, é conversa pra boi dormir. Nós resolvemos a parada é na luta, na ação coletiva e direta contra o capital e seus governos. O resto é conversa mole!
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