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Brasil: MST pide 120 mil asentamientos, Lula ofrece 60 mil. Parece mercado de las pulgas

03.07.03

Lula pede ao MST calma e respeito à lei
Já o movimento cobra assentamento de 120 mil famílias, além de outras 15 reivindicações

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou ontem dirigentes do Movimento dos Sem-Terra (MST) que a onda de saques e invasões de propriedades rurais prejudica a reforma agrária. Durante reunião no Palácio do Planalto com 27 coordenadores nacionais do movimento, Lula não pediu uma trégua, mas pregou o respeito à lei e advertiu que a violência no campo não é boa nem para o governo nem para o MST.

Marcado por um clima de cordialidade, o encontro durou duas horas e meia e serviu para que o presidente fizesse um minucioso relato do que tem feito pela reforma agrária e pedisse paciência. “O governo não tem por que pedir trégua ao MST, pois não tutela os movimento civis. Assim são as regras num estado de direito. Ao governo, cabe fazer cumprir a lei e as regras”, resumiu o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, logo depois da reunião.

Lula deixou claro que é difícil acelerar o ritmo da reforma agrária, como quer o MST, pois no momento não há recursos nem terras disponíveis para tanto. A prioridade, reafirmou o presidente, é melhorar as condições de sobrevivência e de produção nos assentamentos já existentes.

Após o encontro, um dos coordenadores nacionais do MST, Gilmar Mauro, afirmou: “Não houve conversa sobre trégua. O governo se compromete com a reforma agrária. Se for feita, os conflitos no campo vão diminuir automaticamente.” O governo avalia que, apesar da boa vontade manifestada pelos dirigentes do movimento, há cerca de 30 mil sem-terra impossíveis de controlar, por conta da ação de líderes radicais como Jaime Amorim, de Pernambuco, e José Rainha Júnior, de São Paulo.

Convênio - Para o Planalto, a situação é crítica em pelo menos quatro Estados: Alagoas, Pará, Paraná e Pernambuco. Lula informou aos coordenadores do MSTque, com o objetivo de reduzir a tensão nesses locais, o governo federal está firmando convênio com os governadores.

Já os chefes dos sem-terra entregaram ao presidente uma lista de 16 reivindicações, entre elas o assentamento imediato de 120 mil famílias, número que pretendem ver chegar a 1 milhão até o fim do governo Lula.

O presidente respondeu que o governo tem plano de assentar 60 mil famílias neste ano e não fixou uma meta para seu mandato. Além de Rossetto, participaram do encontro os ministros da Casa Civil, José Dirceu, da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, e da Segurança Alimentar, José Graziano, além dos líderes do governo no Congresso, senador Amir Lando (PMDB-RO), no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP).

Ambiente - Depois da reunião, Rossetto assegurou que o governo pretende fazer a reforma agrária avançar no segundo semestre, com um programa global “forte, vigoroso e pacífico”. Segundo ele, ficou claro na reunião que o Planalto não quer conflitos no campo, porque acha desnecessárias atitudes como invasões e saques de alimentos: “O governo espera que seja construído um ambiente para reduzir o padrão de conflito agrário. Não reconhecemos como correto um ambiente de conflagração no campo.”

Já Gilmar Mauro elogiou Lula, a quem considerou “bem-intencionado, realmente disposto a fazer a reforma agrária”. De acordo com ele, o verdadeiro adversário do MST é o latifúndio. O dirigente do movimento assegurou que não há orientação para a promoção de saques, mas disse que as invasões “fazem parte da luta”. Os saques ocorridos, em Pernambuco, segundo ele, têm uma justificativa: 16 mil famílas esperavam cestas básicas e elas só chegaram para 2 mil.

Como se falasse a mesma linguagem do governo, Gilmar Mauro declarou: “Também queremos uma reforma agrária pacífica, sem violência. Nossa orientação é evitar o conflito, não cair em provocações como as que vêm sendo feitas por alguns fazendeiros, isoladamente.”

Indagado se, depois da reunião no Planalto, eventuais invasões não soariam como provocação, Gilmar Mauro disse que os movimentos sociais existem exatamente para fazer pressão: “Luta social não atrapalha as mudanças no processo social. Se este País acabou com a ditadura e derrubou um presidente por corrupção, foi por meio do movimento social.”

BRASÍLIA – Um dos principais coordenadores do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile negou que direção nacional do movimento esteja coordenando uma onda de saques no Nordeste. “São problemas localizados, que o povo de cada região decide”, disse. Mas reafirmou que as invasões de terras vão prosseguir.

Na reunião de ontem entre os representantes do MST e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não se tratou em nenhum momento da possibilidade de uma trégua: “Isso não é assunto de discussão. Enquanto houver sem-terra e latifúndios, a luta vai continuar”, disse.

Stédile saiu muito satisfeito do encontro com Lula. “Serviu para termos certeza de que o governo vai realmente priorizar a reforma agrária no segundo semestre, mobilizando vários ministérios e seus principais assessores”, contou. “Acho que ele se convenceu de que a reforma agrária será o principal programa para combater a pobreza e a fome e enfrentar o desemprego.”

O líder dos sem-terra deixou o encontro disposto a comemorar: “Vamos brindar com cachaça de Minas. Vamos ganhar de 5 a 0 do latifúndio.”

Visita – O interesse do presidente da República pelo MST foi manifestado de diversas maneiras, segundo Stédile. Uma delas foi quando aceitou o convite feito pelos líderes do movimento para passar um dia em um assentamento. “Ele disse que deseja visitar vários e até pescar num assentamento em Mato Grosso do Sul.” Também ficou combinado um jogo de futebol com os sem-terra – em data e local a serem acertados.

Na reunião com Lula e os ministros, Stédile adotou um discurso realista. Disse, segundo um dos presentes, que o MST precisa ter compreensão das dificuldades do governo, uma vez que o estoque de terras disponíveis para a reforma é pequeno. “Temos de pensar em reduzir os módulos de assentamentos”, afirmou, referindo-se ao tamanho médio adotado hoje – de 5 hectares por família.


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