Recife - Um grupo formado por 45 famílias de agricultores ligadas ao Movimento de Libertação dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MLTRST) - ima das entidades dissidente do Movimento dos Sem-Terra (MST) - ocupou ontem uma fazenda no município de Cabrobó, no sertão de Pernambuco. A propriedade, conhecida como Fazenda Brejão, tem cerca de 80 hectares e está localizada em uma das áreas do Estado nas quais existe grande número de plantações de maconha.
Os sem-terra afirmam que existem homens armados na região, supostamente contratados por traficantes. De acordo com os coordenadores do MLTRST, a fazenda é improdutiva e estaria sendo utilizada para o plantio e a prensagem de maconha. “Nosso pessoal já estava de olho na área há vários meses, pois fizemos várias denúncias sobre o plantio de maconha em alguns locais da fazenda, mas ninguém fez nada”, justificou Sávio da Silva, que é um dos coordenadores do movimento.
Os dirigentes do MLTRST também argumentam que os proprietários morreram há três anos e desde então os herdeiros teriam abandonado a propriedade. E afirmam que foi essa situação que os levou a resolver ocupar a fazenda.
Os coordenadores do movimento disseram, entretanto, que, apesar do abandono, há infra-estrutura que pode ser recuperada. “Existem vários locais onde o sistema de irrigação só precisa de alguns ajustes para voltar a funcionar”, afirmou Silva.
O Batalhão da Polícia Militar de Cabrobó informou que 15 policiais foram enviados ao local para investigar se as denúncias sobre a existência de uma milícia armada eram procedentes, mas não houve nenhum flagrante. “Fizemos algumas diligências para tentar encontrar os supostos capangas, mas não localizamos nada, nem armas nem maconha”, contou o tenente da PM Luiz Farias.
Embora ainda não haja nenhuma ação de reintegração de posse, os sem-terra já se anteciparam e garantem que vão resistir se alguém tentar retirá-los da fazenda. “Não sairemos daqui nem debaixo de bala”, assegurou Silva.
Ele argumentou que a terra, que é boa para o cultivo, não está sendo utilizada e os sem-terra “precisam e querem trabalhar”. “O que é melhor, nosso pessoal plantando milho, feijão e mandioca ou os traficantes plantando maconha e assustando as famílias da região?”, perguntou.
Liderança - Um levantamento divulgado ontem pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, confirma que Pernambuco é o estado que lidera o ranking das invasões de terras ocorridas este ano. De janeiro a julho, foram registradas 34 ocupações lideradas por movimentos sociais no Estado. Desse total, 20 ocorreram somente no mês de julho.
O Estado de São Paulo está em segundo lugar nessa lista, com 24 invasões desde janeiro. O responsáveis pelo estudo da Unesp consideram tanto a ocupação de áreas públicas como de particulares. No Paraná, ocorreram 13 ações. Em todo o Brasil, os movimentos sociais promoveram 101 invasões nos sete primeiros meses do ano