CUIABÁ – Trabalhadores rurais ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST) saquearam na sexta-feira à noite o armazém da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Rondonópolis, sul de Mato Grosso. Os sem-terra encheram dois caminhões com arroz e feijão. Ninguém foi preso. A ofensiva, no entanto, fracassou, pois eles não conseguiram descarregar os alimentos no acampamento localizado às margens da BR-163 e a carga foi apreendida pela polícia.
Numa ação rápida, de acordo com boletim de ocorrência, líderes do MST coagiram os motoristas Davi José Lopes e Hélio Drum, contratados pelo dono da Fazenda São Francisco para transportar os pertences dos sem-terra, e os obrigaram a ir até o armazém para fazer o saque. Pelo menos 80 toneladas de arroz, feijão, macarrão e óleo estão estocadas no local.
Dois líderes do MST que não quiseram se identificar informaram que o saque dos dois caminhões de alimentos foi uma represália à retirada de 250 famílias da Fazenda São Francisco, na sexta-feira. A Justiça acatou mandado de reintegração de posse da propriedade invadida há meses. Não houve reação. Em protesto, bloquearam a BR-163 durante todo dia.
Em menos de uma semana, os sem-terra invadiram duas vezes o armazém da Conab em Rondonópolis. A primeira foi terça-feira, mas a Polícia Militar impediu o saque. Até o começo da tarde de ontem, a polícia não havia identificado os responsáveis pelo saque e ameaças aos motoristas. Um dos coordenadores do MST notificados até o momento é Gilmar Dias, que vai responder a inquérito por furto. As cargas de alimentos apreendidas foram levadas para o pátio da delegacia de Polícia Federal.
A Conab vem distribuindo desde sexta-feira 80 mil quilos de arroz, 33 mil quilos de feijão, 27 mil quilos de macarrão e 15 mil latas de óleo para 6,2 mil famílias do MST, do Movimento dos Trabalhadores Acampados (MTA) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), que ocupam terras em Mato Grosso.
Paraná – Em Ortigueira, na região centro-sul do Paraná, cerca de 150 famílias ligadas ao MST invadiram na manhã de ontem a Fazenda Vale do Sol, com 360 alqueires. Os invasores estavam no Assentamento Padre Josino e afirmam que a propriedade é improdutiva. O proprietário, Kamal El Kadri, no entanto, possui documentos que atestam a produtividade. Esta é a quarta área invadida no Estado em uma semana.
A delegada Gisele Mara Durigan esteve na propriedade junto com policiais, em razão de informações de que havia reféns. As acusações não foram confirmadas. Em conversa com os líderes, a delegada conseguiu a liberação do maquinário e a permanência de alguns funcionários na sede, já que que há cerca de mil cabeças de animais, entre gado, bovinos e cavalos.