Brasil: Estudantes ocupam Câmara Municipal de Salvador

31.Ago.03    Análisis y Noticias

Invasão foi clímax da onda de protestos
contra o aumento da tarifa de ônibus, que passa a
custar R$1,50

A Câmara Municipal foi ocupada ontem no final da
manhã por cerca de 30 estudantes secundaristas e
universitários. Eles integravam a passeata
iniciada na Praça da Piedade às 10h, que percorreu a
Avenida Sete de Setembro em direção à Praça
Municipal, local que reuniu, de acordo com a Polícia
Militar, mais de 3,5 mil alunos, e culminou com a
ocupação da Câmara por volta do meio-dia. Este foi
o clímax da onda de protestos estudantis que
movimentou a cidade contra o segundo reajuste este
ano da tarifa de ônibus, que passou de R$1,30 para
R$1,50, após anúncio do secretário de
Transportes, Ivan Barbosa. Depois do tumulto provocado pela
invasão, a Câmara Municipal fechou suas portas e
os estudantes tentavam negociar com os vereadores
uma saída para a situação. À tarde, o secretário
Ivan Barbosa se recusou a receber os estudantes,
que desocuparam a Câmara e seguiram em passeata
até a Estação da Lapa (veja box).

Segundo Augusto Vasconcelos, ex-aluno da
Universidade Católica do Salvador (Ucsal) e um dos
dirigentes da União Juventude Socialista (UJS), a pauta
de solicitação dos estudantes compreendia o
não-reajuste da tarifa de ônibus, a revitalização do
Conselho Municipal de Transportes, a gratuidade da
primeira via do cartão de meia-passagem, o uso do
smart card nos finais de semana e na região
metropolitana, assim como a renovação da frota de
coletivos da cidade. “O conselho é um espaço
democrático que possibilita o diálogo com todos os
segmentos sociais. Sua revitalização é de caráter
estratégico para nós estudantes e para a sociedade”,
declarou.

Os alunos que vieram da Praça da Piedade ficaram
aglomerados na Praça Municipal, em frente à
prefeitura, e tentavam uma reunião com o prefeito
Antonio Imbassahy. Em virtude do impasse criado, já
que uma comissão formada por alunos não seria
recebida na prefeitura, os estudantes partiram em
direção à Câmara Municipal e iniciaram a ocupação.
Cerca de 30 alunos conseguiram subir as escadas de
acesso ao plenário, enquanto a Polícia Militar
organizava a resistência.

Repúdio - “Essa manifestação é um ato de repúdio
ao aumento das tarifas”, afirmou o estudante
secundarista do Iceia, Sandoval Santos, um dos alunos
ocupantes. “Nosso movimento é social”, definiu o
estudante da Ufba, Bruno Moura, 21 anos. Além de
lideranças do Diretório Central dos Estudantes da
Ufba, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e
grêmios estudantis, apoiavam a ação estudantil a
CUT e a Federação da Associação de Bairros de
Salvador (Fabs).

Alunos de diversas escolas públicas de Salvador,
como o Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes,
Instituto Central de Educação Isaías Alves
(Iceia), Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia
(Cefet), Colégio Estadual Landulpho Alves,
Odorico Tavares, e de faculdades públicas e
particulares estavam na passeata anunciada desde anteontem,
quando estudantes bloquearam a Avenida Oscar
Pontes e congestionaram as vias de acesso para a
cidade baixa. As lideranças estudantis estipularam em
mais de cinco mil alunos a mobilização de ontem.
De acordo com a assessoria de comunicação da
Polícia Militar, não ocorreram prisões nem
depredações na Praça Municipal, onde 260 policiais do
Batalhão de Choque e unidades de áreas estavam
dispostos para conter os estudantes. A reunião da
Comissão de Transporte da Câmara acontece nesta
segunda-feira, às 16h, na Câmara Municipal.

Protesto paralisa a Suburbana

O aumento da passagem de ônibus paralisou o
trânsito na Avenida Suburbana por mais de cinco horas
ontem. Estudantes de ensino médio e fundamental,
alguns professores e moradores usaram os próprios
corpos, fogo e pneus a partir das 10h, para
barrar a movimentação do transporte de passageiros, na
altura do retorno do Luzo. Os manifestantes
queriam evitar o aumento. Alguns pediam que a tarifa
abaixasse para R$1. “Estes empresários lucram
demais”, avalia o comerciante Eudes dos Santos,
morador da região e pai de dois estudantes.

Os estudantes solicitavam também a ampliação do
direito de uso do smart card aos domingos e
feriados. “Não queremos privilégios, e sim garantir os
nosso direitos”, explica o estudante Idson
Carvalho do Nascimento. Participaram do protesto alunos
dos colégios púlicos Bertholdo Reis, Clériston
Andrade, São Brás, Luiz Tarquínio e Plataforma,
entre outros. Sentados no asfalto, alguns deitados,
eles enfrentaram a gritaria dos motoristas.

Um ônibus da linha 1606 recebeu uma pedrada no
pára-brisas. “Em vez de parar, o motorista resolveu
continuar em cima da gente”, descreve a
adolescente Daniela Souza Silva. Ninguém ficou ferido e o
motorista não foi encontrado no local. Outro
incidente do protesto foram dois tiros de revólver
emitidos de dentro de uma parati vermelha, conforme
descrição dos estudantes, que anotaram a placa à
caneta na palma da mão: JMQ 1808. A PM não estava
no local na hora dos disparos e aconselhou aos
manifestantes que registrassem queixa.

Filas quilométricas se formaram nas duas vias da
Suburbana. Houve paralisação também nas
tranversais Alto dos Cemitérios e Alto do Sertão. Embora
os manifestantes quisessem deixar passar os carros
pequenos, a passagem de todos os veículos que
transitavam no local, exceto motocicletas, ficou
interditada. As pessoas haviam partido ou estavam se
dirigindo às regiões de Paripe, Fazenda Coutos,
Vista Alegre, Base Naval, Ilha de São João e
Simões Filho.

Grande parte dos motoristas e passageiros
esperava dentro dos ônibus. O motorista Aildo Souza
Oliveira nem acreditava estar passando novamente pela
mesma situação do dia anterior, quando houve
protesto semelhante na Baixa do Fiscal. “E o pior é
que acho que não vai adiantar nada eles fazerem
isso, a passagem vai aumentar do mesmo jeito”,
disse o motorista.

Acesso à Lapa é fechado

Junte quase quatro mil estudantes, um aumento na
tarifa dos ônibus, bandeiras, apitos e o bloqueio
da entrada da principal estação de transbordo de
Salvador e se tem um protesto e engarrafamentos
por toda a cidade. Essa foi a maneira que
estudantes secundaristas e universitários usaram para
reclamar do reajuste que eleva as passagens de
R$1,30 para R$1,50 a partir de amanhã. Depois de
participarem de uma marcha da Praça da Piedade até a
Praça Municipal, os estudantes desceram para a
Estação da Lapa e fecharam o acesso dos coletivos
entre às 13h50 e 16h25. Em seguida, partiram em
passeata novamente para o centro, passando pela
Avenida 7 de Setembro, Ladeira da Montanha,
encerrando o protesto às 18h na Praça Castro Alves.

Os estudantes, ainda dispersos, chegaram por
volta do meio-dia gritando palavras de ordem e se
instalaram na pista principal de acesso ao local,
impedindo a entrada dos coletivos. O protesto
realizado num dos horários de pico gerou um grande
engarrafamento no entorno do Dique do Tororó,
obrigando os passageiros a enfrentar uma caminhada na
ida para o centro da cidade e no retorno para
casa.

Para evitar a entrada dos coletivos, primeiro os
estudantes sentaram no meio da pista que fica
embaixo do viaduto da estação. Sem conseguir chegar
próximo aos pontos, dezenas de ônibus
permaneceram enfileirados ao redor do Dique do Tororó por
mais de 40 minutos. Quem estava dentro dos
coletivos, preferiu seguir a pé até e quem aguardava a
chegada dos coletivos na estação teve que andar até
o Dique para conseguir uma condução.

Tumulto - Mas foi durante a tarde que o clima
esquentou. Às 13h50, um grupo que não concordava com
a invasão da Câmara de Vereadores e nem com o
tumulto, chegou à Lapa e impediu a circulação dos
automóveis e coletivos com barricadas feitas com
bancos de cimento e pedras. A Polícia Militar (PM)
apareceu e foi de encontro aos manifestantes,
alguns sentados na faixa de pedestre foram atingidos
pela moto da PM placa JPZ-2407. A estudante do
Colégio Manoel Novaes Grasiela Pastorello, 16 anos,
foi uma das atingidas. Ao reclamar que a moto
teria passado por cima do seu pé, ela ainda teve que
ouvir xingamentos e ameaças dos policiais. Outro
estudante, Marcelo Sampaio Guedes, do Colégio
Estadual Senhor do Bonfim e que estava sentado no
meio da rua, foi algemado pelo major Couto da PM e
ficou dez minutos detido dentro da oficina Auto
Service Reis. Ao perceber a presença da imprensa,
o major resolveu liberar o rapaz.

Embora estivessem protestando juntos, a falta de
uma liderança e divergência entre opiniões fez
com que os estudantes ocupassem a área de forma
desordenada e se dividissem em grupos. Enquanto os
alunos da rede pública de ensino médio preferiam
apenas paralisar o trânsito, os do ensino superior
seguiam ordens vindas de um carro de som. A
presença de políticos também era questão de brigas, já
que os secundaristas queriam fazer um movimento
sem partidos, apenas com estudantes e a população.

Na confusão, retrovisores de carros e dois vidros
de um coletivo foram destruídos, a Polícia de
Choque entrou em ação e houve mais tumulto por causa
dos cães da tropa. Durante o corre-corre, a
estudante Elisângela Santos, 15 anos, do Colégio
Ypiranga, caiu e bateu a cabeça, sendo socorrida pelos
colegas. Mesmo com os ânimos acirrados, a polícia
conseguiu entrar em acordo com os estudantes, que
se comprometeram a não fazer vandalismo. Eles
ficaram no local até às 18h, quando finalmente se
dispersaram.