PT quer Internacional na sua luta por ‘nova ordem’
Projeto do partido é formar uma aliança com os socialistas e o Partido Democrata dos EUA
SILVIO BRESSAN e CONRADO CORSALETTE
O PT aposta na Internacional Socialista (IS), que realiza seu 22.º congresso em São Paulo, como o melhor caminho para montar uma ampla aliança entre países desenvolvidos e periféricos capaz de fortalecer as instituições multilaterais, mudar as regras do comércio internacional e reconfigurar a correlação de forças na Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de não ser membro da IS, o PT pretende usar a organização para facilitar essa estratégia. E um dos principais pontos é a aproximação, do governo Lula e da IS, com o Partido Democrata americano, que depois dos dois primeiros anos do governo George Bush passou de sapo a príncipe para boa parte da esquerda mundial.
Segundo o assessor especial para Relações Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a intenção da Internacional e do governo Lula é fechar parceria com os democratas para a elaboração de uma “nova ordem política e econômica internacional”. O assunto foi discutido ontem entre o presidente da IS, o português António Guterres, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O presidente da Internacional tem dito que esse reordenamento não pode ser feito sem uma intensa participação dos americanos, por causa de seu peso econômico e político”, afirmou Garcia. Preocupado com a repercussão perante o governo Bush, ele negou que a conversa com os democratas atrapalhe as negociações em torno da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). “Essas relações nunca estiveram num clima tão favorável como estão agora.”
Estratégia – Essa aproximação, porém, é apenas parte da estratégia do PT para o encontro da IS. Num espaço de menos de mil metros, entre o Hotel Transamérica e seu Centro de Exposições, o governo Lula e o PT montaram ontem duas “frentes de ataque”: enquanto Lula recebia mais de uma dezena de chefes de Estado no Transamérica, o presidente do PT, José Genoino, usava a sala superior do pavilhão do congresso para receber representantes de mais de 20 partidos.
Lula conversou com os primeiros-ministros de Mongólia, Montenegro, Romênia e Sérvia, além dos ministros de Relações Exteriores da Grécia e da Hungria. Genoino recebeu dirigentes socialistas e social-democratas de Alemanha, França, Itália, Chile e Argentina, entre outros. Também estiveram com ele os membros do Partido Comunista Chinês. “Essa operação do PT é importante, porque a IS tem de sair da Europa e se aproximar dos outros países”, disse o presidente do PS chileno, Gonzalo Fanta.
Ao tentar colocar num mesmo arco os democratas americanos e os comunistas chineses, o governo Lula mostra disposição de criar uma aliança ampla e influente no cenário internacional. A IS seria apenas um instrumento, que aliás já se está mostrando eficiente. Já ficou acertado, por exemplo, que o pedetista Leonel Brizola deixará uma das vice-presidências para figurar como um dos presidentes honorários. “Na prática ele foi rebaixado”, admitiu um assessor da IS.