FAB recebe em julho os primeiros turboélices de ataque leve ALX/Emb-314 Supertucano da Embraer, destinados a fornecer poder de fogo ao Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), inaugurado há pouco menos de um ano.
O lote faz parte de uma encomenda de 76 unidades com opção de compra de mais 23 e é um exemplo do sucesso da combinação de expectativas das forças armadas com as possibilidades de mercado. O Comando da Aeronáutica vai gastar cerca de US$ 440 milhões nessa operação, mas a encomenda pode ser fortemente compensada pelas exportações. Um único contrato em negociação com a Força Aérea da Colômbia, temporariamente suspenso pelo presidente Alvaro Uribe por interferência do governo dos Estados Unidos, pode render US$ 234 milhões. Especialistas do setor de vendas internacionais de defesa da companhia estimam que possam ser negociados a médio prazo com clientes externos cerca de US$ 700 milhões em pacotes do ALX.
O avião é uma proposta tecnológica revolucionária. A eletrônica embarcada é virtualmente a mesma dos caças supersônicos mais pesados. Ele pode receber e transmitir sinais de coordenação de combate emitidos de terra ou dos jatos R-99 de alerta avançado da Embraer, montados sobre a plataforma do modelo ERJ-145 de passageiros. Armado com canhões, metralhadoras, foguetes, mísseis e bombas inteligentes o pequeno Emb-314 é um equipamento de US$ 5,5 milhões (preço inicial) capaz de interceptar outras aeronaves e de destruir alvos de diversos tipos a longa distância.
Na linha de sistemas de grande porte, o Comando da Marinha está construindo corvetas, modernizando fragatas lança-mísseis e preparando um segredo:
submarinos convencionais nacionais, uma evolução do modelo alemão que deu origem à classe Tupi, de 1.440 toneladas de deslocamento. Quase tudo a respeito das modificações que serão aplicadas ao S-34 Tikuna, em construção no Arsenal da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, são secretas. O submarino incorpora recursos de tecnologia de furtividade, baixo ruído, eletrônica de última geração e expansão do raio de ação, estimado em 18 mil quilômetros. O sistema de armas convencionais talvez contemple os torpedos-mísseis inteligentes, com capacidade para atingir objetivos a mais de 200 km de distância.
O Brasil já domina a sofisticada tecnologia das bombas inteligentes, guiadas por sinais de satélite, intensamente utilizadas pela aviação americana na guerra do Iraque. O projeto privado, da Avibrás Aeroespacial, de São José dos Campos, foi iniciado há três anos. A empresa estima que o mercado internacional adquira 50 mil unidades do equipamento, até 2006, ao preço médio de US$ 21 mil a peça.
A Avibrás desenvolveu um kit semelhante ao utilizado pelas Força Aérea dos Estados Unidos, adaptado a bombas comuns, chamadas “burras”, que permite ataque com precisão de 12 metros depois do lançamento executado por um caça bombardeiro AMX e de um vôo planado de 20 quilômetros.
O conjunto pode ser aplicado nas bombas nacionais de emprego geral do tipo BFL de uma tonelada, de 500 quilos e de 250 quilos produzidas produzidas pelo mesmo grupo. A empresa brasileira mantém em linha modelos especiais com cargas múltiplas de até 220 pequenas bomblets (pequenas granadas) - incendiárias, antiblindados ou de fragmentação - e mais pesadas, para destruição de aeroportos.
Potência - Cerca de 120 empreendimentos desse tipo, conduzidos nas empresas privadas e também nos centros de pesquisa ligados às Forças Armadas, preparam o advento de uma nova geração de equipamentos militares brasileiros, armas e sistemas de apoio.
“A tomada do Iraque pela coalizão anglo-americana deixou claro que o recurso estratégico da guerra moderna é o domínio da tecnologia” analisa o engenheiro de armamentos Luís Carlos Albuquerque. “Não importa se o dinheiro para investimento é limitado: é preciso aplicar em pesquisa, ainda que seja pouco, mas com objetivos bem definidos e práticos”, defende.
A tese do especialista coincide com a tendência seguida pelos Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Os programas apresentados em outubro, na última reunião do setor, realizada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, projetam uma estrutura operacional ágil e moderna para a defesa nacional.
Documentos a que o Estado teve acesso, revelam planos para que a Força Aérea Brasileira (FAB) possa dispor, até 2015, de uma frota de caças de superioridade aérea que permita, em situação de crise extrema, lançar em ação simultaneamente cem jatos supersônicos. Essa ação será coordenada a partir de um complexo de comando subterrâneo, instalado em Brasília. O módulo inicial desse centro foi construído há 10 anos.
Os caças, produzidos no País a partir de um lote inicial comprado no exterior por meio da concorrência FX/Br, estariam armados com a segunda geração, de longo alcance, de mísseis nacionais ar-ar AA-1 Piranha. Essa variante avançada está em desenvolvimento pelo fabricante da primeira versão, a Mectron, também de São José dos Campos. A empresa pesquisa uma versão terra-ar, para defesa antiaérea de ponto e aperfeiçoou o míssil antitanque MSS 1.2 da força terrestre.
Cruzeiro - A FAB considera a incorporação a seu arsenal de um tipo de míssil ar-terra de cruzeiro. A Avibrás está oferecendo seu modelo apresentado em 2001, o AV-TM 150/300, para essa função. Trata-se de uma nova classe criada na Europa no fim dos anos 80, e definida como uma espécie de Tomahawk - o grande míssil cruise americano, estrela tecnológica das duas guerras do Golfo. E com uma vantagem: o baixo custo. O batismo de fogo do Storm Shadow, denominação utilizada pela aviação britânica, foi no dia 21 de março, contra alvos da inteligência iraquiana em Bagdá. O caça Tornado disparou duas unidades com folga sobre o limite do alcance, de aproximadamente 250 quilômetros.
A arma brasileira atua entre 150 e 300 quilômetros. Pode ser disparada do solo por uma carreta padrão do sistema Astros-II de foguetes de saturação ou embarcada em aviões caça-bombardeiros. O Storm Shadow é cotado a US$ 800 mil. Segundo o presidente da Avibrás, João Verdi de Carvalho Leite, o AV-TM “entra no mercado com qualidade e preços competitivos”.
O mesmo grupo industrial, instalado em Jacareí, começou a testar em abril o Guará, um blindado leve de reconhecimento com tração 4×4.
Montado sobre chassi Mercedes-Unimog, o veículo foi especificado com participação do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército, empenhado em criar uma nova série de couraçados sobre rodas, dotados de tecnologia digital. “Esta é a segunda viatura: a anterior,VBL, de 4 a 12 toneladas tem versões múltiplas e pode servir a tarefas de comando, posto meteorológico, radar de vigilância, posto de observação, reconhecimento armado, transporte de até 12 soldados e ambulância”, explica Verdi. O primeiro usuário regular é o Exército da Malásia, importador de US$ 120 milhões em baterias Astros-II. O Guará, menor e muito ágil, serve de plataforma lançadora de mísseis antitanque.