Compañera brasileña llega a La Realidad a conocer la experiencia zapatista

07.Abr.05    Análisis y Noticias

Descobrindo La Realidad.
Por CAZ 05/04/2005 às 07:17

Na semana passada realizei um dos meus desejos mais secretos: conhecer La Realidad,
comunidade autônoma rebelde, simpatizante do Exército Zapatista de Libertação
Nacional, no Estado de Chiapas.

Descobrindo La Realidad.

Ximena Peredo. El Norte de Monterrey, 28/03/2005.

Na semana passada realizei um dos meus desejos mais secretos: conhecer La Realidad,
comunidade autônoma rebelde, simpatizante do Exército Zapatista de Libertação
Nacional, no Estado de Chiapas. Ainda que o estar aí tenha me tirado vários
preconceitos e semeado outras dúvidas, tenho clareza de que cheguei a entender só um
pouco da rebeldia indígena. Pude perceber que La Realidad está parindo novas vidas,
novas possibilidades e esperanças.

Do município de Las Margaritas, cheguei em La Realidad depois de seis horas de
viagem na traseira de um caminhão. Nela havia 30 pessoas e várias crianças. O
caminho pela estrada de terra ganha novos sentidos na selva Lacandona. O calor e o
pó quase devoram o meu espírito revolucionário.

Primeira descoberta: sou uma pequeno burguesa que não sabe se manter em pé na
traseira de um caminhão, agarrada a uma barra de ferro. O estoicismo das mulheres
que se seguravam com uma mão e com a outra carregavam seus nenés me levou à segunda
das minhas descobertas: esta gente é corajosa e sabe sofrer no caminho porque sabem
para onde vão.

Entrei na La Realidad com medo de que os indígenas me vissem como uma loira
intrometida, que seu tratamento fosse hostil e evitassem qualquer contato comigo.
Pelo menos, esta tem sido, em geral, a minha experiência, mas quando você sai de San
Cristóbal de las Casas ou das regiões mais urbanizadas e se embrenha na selva ou em
Los Altos, a amizade se restabelece. Os indígenas não pedem mais esmolas, não te
chantageam para que compre [um de seus produtos]. Há uma mudança. Se transformam em
pessoas decididas, são livres, são abertos. Falam, riem, contam piadas. O encontro é
delicioso. Na selva Lacandona ocorre uma reconciliação histórica.

As crianças se aproximam. Buscam o olhar da pessoa estranha para sorrirem com ela. É
uma infância que não foi violentada. São brincalhonas e agradáveis. Isso me chamou
muito à atenção. Na selva, a infância é muito bem cuidada. O fato de olharem para o
estranho como uma nova diversão me faz pensar que não foram educados para
defenderem-se do mestiço, não mamaram de seus ancestrais o ódio pelo opressor porque
em casa se sentem livres, autônomos.

O que impressiona destas comunidades não é o misticismo zapatista, mas sim a
autonomia. Apesar desta não ter sido concedida e respeitada pelo governo federal, da
forma como se pleiteava nos controvertidos Acordos de San Andrés Larráinzar, em
1996, as comunidades têm começado sim a construção da autonomia. Você se sente em
outro país, num território quase mexicano, e, de início, isso dá uma sensação de
amargura, mas conforme se vai observando, a autonomia começa a ser justificada.

No percurso já se pode aprender sobre autonomia. Os caminhos melhoram quando se
entra nas regiões dos municípios autônomos. Só há eletricidade nas comunidades
rebeldes quando esta continua sendo uma promessa para os povoados governamentais. Em
La Realidad, por exemplo, os moradores puseram pra funcionar sua própria planta
hidrelétrica que os nutre de luz e energia. A autonomia é natural quando não há
saúde, nem energia, nem casa, nem transportes, nem justiça, nem trabalho.

Terceira descoberta: a autonomia é [conseqüência] lógica quando alguém se cansa de
esperar um tratamento digno. La Realidad é a sede do Caracol mãe dos caracóis do mar
de nossos sonhos, ponto de encontro entre sociedade civil, comunidades indígenas e
exército zapatista. A existência dos cinco caracóis no Estado é um feito que poucos
querem entender. Quando em 2003, o subcomandante Marcos anuncia o desaparecimento
dos “Aguascalientes”, antigas sedes de encontro entre o EZLN e os civis, e o
exército rebelde se retira das comunidades inicia a verdadeira autonomia. Marcos
entrega o comando das comunidades às Juntas de Bom Governo e aí começa a aventura
para os povos indígenas: reformular tudo. Ter um lugar onde a política seja
reinterpretada.

Quarta descoberta: os indígenas sempre foram autônomos, antes da conquista
espanhola, mas também depois, quando o abandono do governo os obrigava a criar suas
próprias formas de sobrevivência. Poderia tecer também reflexões sobre o que falta
por fazer ou sobre as contradições que encontro na autonomia, mas estas ainda andam
se remexendo na minha cabeça e devo esperar que se assentem com o passar do tempo.
Vou sair de Chiapas muito agradecida pela outra realidade que têm me mostrado,
amanhã estarei em Monterrey, a minha realidade, vou brincar de que existe a mesma
sabedoria e firmeza cravada na Sierra Madre. Quero descobri-la.

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