Brasil: Los principales intelectuales de izquierda del pais critican rumbo de Lula

11.Jun.03    Análisis y Noticias

Intelectuais petistas abrem guerra contra reforma

Além das críticas, aliados históricos do presidente pediram mudança nos rumos do governo

Intelectuais ligados ao PT comandaram ontem um ato na Universidade de São Paulo (USP) contra a reforma da Previdência proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de uma manifestação de discordância radical em relação ao projeto do governo, o encontro se transformou num desabafo de aliados históricos de Lula. “Uma ação política é nossa responsabilidade histórica de impedir o colapso, o fracasso e a direitização de um governo de esquerda que está lá porque nós o construímos”, discursou a filósofa Marilena Chauí, que, ao lado de outros intelectuais, esteve com o presidente semana passada.

Empunhando um microfone que há um ano poderia estar nas mãos de Lula em qualquer ato do gênero, o jurista Fábio Konder Comparato, ligado ao PT, defendeu a realização de um referendo nacional para que a proposta de reforma da Previdência passe pelo crivo de toda população. “Nenhum órgão do Estado tem competência para reduzir as garantias estabelecidas na Constituição”. Comparato sustentou que, se o referendo não der certo, a saída será entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a reforma no Supremo Tribunal Federal (STF). “Gostaria de propor a todos os movimentos que concentrassem seus esforços numa luta técnico-jurídica para impedir essa reforma.”

Tanto Comparato, que também esteve na reunião com Lula semana passada, quanto Marilena Chauí deixaram claro seu descontentamento com os primeiros meses de governo. “Do ponto de vista de um governo petista, o primeiro equívoco foi tomar como prioritário um tema que pertencia à agenda do (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso. Ao propor essa reforma, o governo abre uma brecha que tende a se tornar um abismo que o separa da sua base política”, afirmou a filósofa. “Todos nós que elegemos Lula e teimamos em manter a esperança de que esse governo seja bem sucedido não podemos deixar de lutar contra a colossal contradição que se instalou no governo: de um lado, uma política externa independente e democrática jamais vista antes; de outro, todo o peso da estabilização financeira e monetária recaindo sobre as camadas mais pobres da população”, avaliou o jurista.

Em sua exposição às cerca de 150 pessoas que compareceram ao ato, o geógrafo Aziz Ab’Saber não se limitou à questão previdenciária. Ao tratar da soberania da Amazônia, tema que também fez parte de sua fala na reunião com o presidente semana passada, Ab’Saber mandou um recado ao amigo Lula: “Lula pode estar pensando que, com sua performance lá fora, ele está sendo ouvido com sinceridade, mas eles (outros países) não ouvem ninguém com sinceridade.”

CPI - Também descontente com a postura do PT no governo, o geógrafo também criticou as manobras do Planalto para tentar evitar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue o envio de ilegal de US$ 30 bilhões ao exterior pelo Banco do Estado do Paraná (Banestado). “O governo não quer fazer CPI, mas quer continuar fazendo a reforma da Previdência e outras reformas inúteis”, afirmou Ab’Saber, que classificou o projeto do Planalto de “crime nacional”.

Em seu discurso, o sociólogo Otavio Ianni utilizou uma das metáforas que o presidente Lula usa para pedir paciência à população. “Outro dia ele (Lula) declarou que está semeando agora para colher no futuro, mas ele está semeando uma tempestade”, disse o sociólogo. “E a tempestade já está em marcha e as inquietações dos vários setores da sociedade se multiplicam”, disse Ianni.

O também sociólogo Ricardo Antunes criticou a postura dura do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, com parlamentares petistas que discordam da reforma e não economizou nos adjetivos ao classificar o projeto do governo.

“Isso que está aí é um engodo de reforma e a ela nós temos de dizer não.”

Entre a enxurrada de críticas, sobrou também para a Central` Única dos Trabalhadores (CUT), que na opinião de alguns presentes está sendo complacente com o governo. “Cobro da CUT o fato de os funcionários públicos estarem sendo demonizados como inimigos da nação”, discursou o cientista político Francisco de Oliveira.