Paz y amor: Nueva “ocupación” del MST se resuelve amigablemente entre empresario, policía y líderes del movimiento

17.Mar.06    Análisis y Noticias

Jornal A Cidade
Ribeirão Preto, 12 de Março de 2006

Cerca de 120 pessoas arregimentadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-terra) invadiram às 6h05 de ontem a fazenda Santa Maria, na altura do Km 47 da rodovia Abraão Assed (Ribeirão Preto-Serrana). Segundo coordenadores do MST, a fazenda, com mais de 1.200 hectares, pertence ao empresário Carlos Biagi, mas desde 1999 está arrendada ao produtor rural Paulo Maximiano Junqueira Neto. O MST diz que a propriedade encontra-se penhorada junto a banco por causa de dívidas que somariam mais de R$ 20 milhões.
Antonio Sérgio Escrivão, advogado do MST, disse que a fazenda Santa Maria é alvo de quatro processos de execução de dívidas, movidos pelo banco. “A fazenda estava hipotecada e, em 1995 eles deixaram de pagar, dando origem às ações de execução. E em uma delas a Justiça determinou a penhora de uma área de 205 hectares. Nesse processo a instituição financeira foi nomeada fiel depositário”, disse. O empresário Carlos Biagi, sócio da Usina Nova União, não foi localizado pela reportagem.
Os sem-terra chegaram ao local da invasão, às margens da rodovia Ribeirão-Serrana, às 6h05, em três ônibus, um deles vindo de São Paulo. Em um caminhão de apoio vieram água (400 litros), comida (arroz, feijão, macarrão e óleo), lonas e bambus para a montagem das barracas. Uma van trouxe estudantes da Unesp de Franca. A cerca foi rompida e vinte militantes do MST, com facões, começaram a cortar cana e abrir espaço. Um carro de som tocava forró, interrompido apenas por palavras-de-ordem, como “Pátria Livre, Venceremos!”.
No local
Às 7h15, o fazendeiro Paulo Junqueira Neto chegou ao local, acompanhado de uma viatura da PM de Serrana. Segundo ele, a área da fazenda Santa Maria fica na divisa entre os municípios de Ribeirão Preto, Cravinhos e Serrana. Do lado de fora, Junqueira acompanhava o corte de cana, lamentando o prejuízo. Em entrevista, disse que o contrato de arrendamento da área é “absolutamente legal” e que a Santa Maria “é 100% produtiva”. “Tenho 1.250 hectares de cana, mas também amendoim e gado”.
O fazendeiro disse que concordava em ceder uma área cimentada (armazéns de silagem) caso os sem-terra interrompessem o corte.
Proposta
Levada ao líder do MST Edivar Lavratti, membro da coordenação estadual do movimento, a proposta agradou. Lavratti convocou uma reunião do “coletivo” (grupo de líderes) e concordou em abrir de imediato diálogo com Junqueira Neto. Numa conversa de poucos minutos, Lavratti e o arrendatário da fazenda Santa Maria entraram em acordo - o MST suspendeu o plano de cortar 20 hectares (200.000 metros quadrados) de cana, instalando no local apenas uma tenda coletiva, em troca da cessão dos armazéns, a cerca de um quilômetro do local.
A área aberta no canavial não chegou a um hectare e o fazendeiro se prontificou a enviar ao acampamento um caminhão-pipa com água potável.
Dois pontos
Segundo Lavratti, o acampamento vai permanecer nos dois pontos da fazenda até que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) se posicione com relação à situação legal daquela área.
“Além de estar penhorada, essa fazenda é cortada por três córregos que estão contaminados e assoreados pelo cultivo da cana-de-açúcar. As áreas de preservação permanente foram degradadas”, sustenta.
O advogado Wanderley Caixe Filho, do MST, depois de visitar o escritório dos advogados do arrendatário da fazenda Santa Maria, disse que o contrato de arrendamento é legal. “O contrato está correto, mas o problema é outro. O proprietário da área hipotecou as terras e penhorou a produção. Como ele não pagou, o banco executou as garantias. No nosso entendimento, tanto a terra quanto a cana lá plantada são propriedade da instituição financeira”, argumenta.

Cronologia de uma invasão e de um acordo

6h05 - Em três ônibus, um caminhão, uma Kombi e vários carros, os sem-terra chegam ao Km 47 da rodovia Ribeirão-Serrana, derrubam a cerca e iniciam o corte do canavial.

6h20 - Junto a um carro-de-som emprestado pela CUT, líder entoa palavras de ordem, como “MST é luta pra valer”, “Pátria livre, venceremos!”. A corte do canavial prossegue e o caminhão com mantimentos começa a ser descarregado.

6h32 - Com troncos de árvores já preparados, movimento instala uma “cancela” no trecho arrombado da cerca.

6h55 - A água para o café já está fervendo. Mulheres começam a preparar o feijão do almoço.

7h15 - Chega uma viatura da PM e o fazendeiro Paulo Junqueira Neto. Ele pede para ser apresentado ao líder da invasão. Seu plano é levá-lo ao escritório do advogado da fazenda, para mostrar os documentos do arrendamento. “Se eles pararem de cortar a cana, eu empresto os silos”.
7h20 - Edivar Lavratti reúne as lideranças do MST e aceita abrir diálogo. Chama Junqueira, os dois se cumprimentam. “Não tenho nada contra vocês, respeito o movimento, mas vocês invadiram a fazenda errada”. Lavratti explica que os sem-terra só vão deixar o local após contato com o Incra. Junqueira pede que o contato seja feito de imediato. “Num sábado você acha que a gente consegue falar com eles?”, responde o líder do MST. Junqueira oferece então os silos, em troca da suspensão do corte da cana, que continua. Lavratti diz que pode concordar, “desde que você não entre com ação de reintegração (de posse)”.

7h26 - O MST dá ordem para suspender o corte de cana. As lideranças seguem para os galpões junto aos silos. Junqueira vai de carro. Os líderes do MST, acompanhados do advogado Wanderley Caixe Filho e do vereador Beto Cangussu (PT), vão a pé, pelo canavial.

7h35 - Ao entrar na área cimentada dos silos, Junqueira vira para o vereador petista e pergunta: “O senhor vereador é do MST”. Cangussu responde: “Apoiador, apoiador” e dá um tapinha nas costas do fazendeiro. Lavratti vê duas viaturas da PM chegando e reclama com Junqueira: “Você chamou?”. A resposta é não.

7h39 - Acordo é fechado. “Aqui está tranqüilo. Você deixa a chave?”, pergunta Lavratti. “Deixo aberto”, responde Junqueira. O tenente Jean Marcos, da PM de Ribeirão Preto, se aproxima. Lavratti pede que as viaturas da Polícia não fiquem rondando os silos. “Temos crianças, não é conveniente”. O tenente concorda, se coloca a disposição. Ambos trocam números de celulares. “Aqui é cercado, a PM é bom para a segurança de vocês”, diz Junqueira. O fazendeiro vai embora, acompanhado do advogado Caixe Filho, para mostrar o contrato de arrendamento.

Ocupação tem famílias de São Paulo

O líder do MST, Edivar Lavratti, disse inicialmente que todas as famílias envolvidas na ocupação teriam sido arregimentadas em Ribeirão Preto e em Serrana. Mas a reportagem localizou famílias que vieram de São Paulo. Simone Estevão dos Santos, 26 anos, está com o filho Cláudio, de dois meses, no colo. Ao lado, outro filho, Cristian, um ano.
O marido Cláudio Leandro Nascimento é jardineiro, mas estava desempregado.
Moradia
Parecendo assustada com a movimentação, Simone conta que morava em um acampamento do MST na cidade de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. Segundo ela, 120 pessoas vieram de São Paulo num ônibus alugado pelo MST.
Confrontado com a informação, Lavratti nega, diz que de São Paulo o movimento trouxe 40 militantes para a montagem do acampamento e “só dez famílias”.
Segundo ele, essas famílias são “excedente” de invasões do movimento. Ou seja, seriam sem-terra que participaram de outras invasões e acampamentos, mas não conseguiram lotes de terra.
Segundo Edivar Lavratti, na fazenda Santa Maria podem ser assentadas até 400 famílias. “Como temos cadastradas apenas 200, quem quiser entrar na luta pode vir para cá”. Ele diz que não se exige das famílias interessadas experiência no cultivo da terra. “Podem vir desempregados das cidades da região”, convida.