Sobre a ocupação na reitoria e o movimnto estudantil
Por Mayara Vivian 09/05/2007 às 20:15
Indymedia Brasil
Seguem algumas idéias soltas sobre esses dias de ocupação, fruto desde noites em claro, discussões extensas até conversas nos corredores e overdoses de café.
Não é uma colocação de verdades, muito menos mais uma colocação chata e batida de algum partido… parece mesmo um desabafo, crítica e auto-crítica no intuito de construir algo novo (construir e não disputar espaços).
Quando fui na tal audiência pública na quinta-feira, nem me ligava do que que era, tava passando pelo prédio da “História” e resolvi dar uma olhadinha. Não estava claro se íamos ocupar ou não, pelo menos não pra mim. Era claro o anseio por alguma ação prática e radical o suficiente para quebrar o marasmo das falas robóticas das figurinhas de sempre.
Ocupar a reitoria foi um oásis: construir um movimento forte e que representasse realmente um perigo para a reitoria e para o estado, ao invés de ficar diputando microfone, berrando os atos “vitoriosos”, fragmentando o que já é pequeno até que a plenária se esvazie e se aprove qualquer coisa.
Em quase uma semana de ocupação…pois é…
Há uma presença grande de militantes independentes ou, como diria uma colega do sintusp, os “desacorrentados”, que são os principais responsáveis pela manutenção da ocupação.
Não estou dizendo que não tem ninguém de partido trabalhando, mas que são poucos diante do número de independentes.
As forças políticas aki dentro se preocupam mais com a visibilidade e a praticamente “demarcação de território” na plenária do que com a real construção de algo maior.
Falas batidas, cheias de chavões subestimando a inteligência dos outros; acordos de cavalheiros atropelando a opinião sincera de um grande número de pessoas que tbm constróem a ocupação; arrogância, prepotência, como se só estes presadíssimos militantes tivessem clareza política para ‘comandar’ a ocupação.
Se agem assim, pq vomitam o discurso de que a ocupação é de todos, que a plenária é o órgão máximo de decisão onde todos podem e devem falar, horizontalidade, autonomia…
Os procedimentos tomados em bloco pelos partidos visam mais seguir os padrões, ou melhor, os vícios da esquerda, do que corresponder às demandas práticas. Isso gera ações irracionais, sem ligação direta com a realidade como, por exemplo, demorar mais de duas horas para deliberar sobre o formato de uma assembléia, e menos de uma hora para a tomada de decisões em si.
Como existir autonomia num espaço impregnado de disputas, onde as ações são pensadas no proveito de um grupo em detrimento do coletivo, não há bom senso e autonomia depende estritamente do bom senso.
Parece às vezes uma brincadeira de bonecas pq mesmo se colocando no lugar de vanguarda, se atrapalham em questões mínimas e não sabem lidar nem com um número grande de pessoas, muito menos lidar com as outras posições/ forças políticas de forma clara e civilizada.
Conversando com um cara, ele me disse :” dá raiva porque depois da assembléia os grupelhos fazem uma reunião de três horas pra ver o que e como vão fazer enquanto a gente trabalha pra tocar o barco …”.
E muitos desses militantes independentes se sentem acuados de se posicionar numa assembléia.
1-porque ao contrário da ‘vanguarda’ não fizeram curso no senac de como-falar-pras-massas.
2-se sentem perdidos no meio dos acordos entre forças políticas, desde quem vai ser mesa até quem vai blocar com quem e pq (tipo o corno, é sempre o último a saber).
3-pq se a fala dele cutucar o vespeiro sagrado da esquerda, o pessoal vai grudar nele numa tentativa de conversão, ops, conscientização, pra ver se ele adquire um pouco mais de clareza política.
Por outro lado, os independentes precisam se organizar para mudar esse quadro e não ficar só reclamando, felizmente isso já vem sendo feito.
A presenção dos grupos políicos, da disputa e tudo mais, é inevitável e às vezes necessária, só deve haver um equilíbrio para que isso não atravanque o processo…
Bom, essa é a primeira parte do meu sentimento em relação a tudo isso, em breve postarei mais coisas.
Gostaria de deixar claro que ainda tem bons militantes nessas forças políticas, apesar dos pesares, talvez é mais por eles que escrevo essas coisas…pra que invistam seu tempo em algo mais produtivo…
Espero os comentários!
Email:: mayaravivian@riseup.net
Comentários
os
Felipe 09/05/2007 22:25
li rapidamente seu texto,depois comento sua opinião com mais cuidado
Fazendo uma observação rapida, te pergunto: os ditos militantes, imagino, não fazem parte da instituição?
Pelos seus comentários, parece que ha uma divisão entre “os estudantes da instituição” x ” os militantes de partidos”.Sendo que os “militantes de partido” com seus chavões atrapalham o bom andamento de um espaço “dos estudantes da instituição”. mas te pergunto: os militantes de partido não sao TB Estudantes da instituição?
E como estudantes, qual o problema de fazerem propostas de como deveria ser a assembléia? Ou só os estudantes sem partido teriam o direito de propor omo seria uma assembléia?
Depois comento com mais calma,mas o problema de seus comentários esta na concepção de considerar os ESTUDANTES que por algum acaso optaram por ter um PARTIDO, como seres alienigenas, que não fazem parte do corpo estudantil, e que, portanto, devem sert ratados como intrusos impuros em um meio puro e angelical
A militância e o rechaço de esquerda
(a) 10/05/2007 11:25
Felipe, acredito que não foi isso que o artigo quis dizer…
Esse pano de funo que se instaurou nessa ocupação da reitoria, infelizmente, não é fato só desse ato.
O problema maior nesse e em outros casos, soa como se as pessoas levassem seus discursos perfeitos(terminados) para as plenárias, com os seus ideais prontos, perdendo a capacidade de abrir espaços para os outros discursos(não simplesmente falas) mas as próprias concepções dos outros militantes que possuem o mesmo propósito do ato.
As bandeiras de partidos, as nossas leituras políticas pessoais deveriam servir como um norte pessoal, porém, a fim de canalizar uma força só na militância, sem tentar impor ao resto as nossas concepções particulares.
Acredito que a proposta desse artigo é refletir para o latente rechaço que acontece dentro e na articulação entre os movimentos de esquerda, pelo simples fato de não adotarem a mesma teoria política, ou ideologia, sendo que os propósitos são os mesmos.