Brasil: Lula preocupado adelanta para hoy reunion con MST, el que, ademas de ocupaciones comienza saqueos de camiones

02.Jul.03    Análisis y Noticias

Lula discute crise no campo com líderes sem-terra
Segundo assessores, presidente ouvirá reivindicações, mas não pedirá trégua

BRASÍLIA - Preocupado com a onda de invasões de terra e conflitos agrários no País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne-se hoje com representantes do Movimento dos Sem-Terra (MST). O encontro está marcado para as 10h30, no Palácio do Planalto, e será o primeiro desde que Lula assumiu o cargo. A reunião estava prevista para ocorrer no dia 7, mas foi antecipada.

O presidente manifestou sua preocupação com a questão agrária anteontem, durante reunião com os governadores, cujo tema central era a reforma tributária. Lula comentou que, se nada for feito, a região do Pontal do Paranapanema, por exemplo, corre o risco de virar uma “república à parte”.

Apesar das ligações históricas de Lula e do PT com o Movimento dos Sem-Terra, o encontro de hoje só entrou na agenda do Planalto depois do susto com a escalada de invasões de propriedades rurais, pedágios, bloqueios de estradas e até saques País afora - em ritmo mais intenso, nos últimos seis meses, do que no governo Fernando Henrique Cardoso.

Ainda ontem, a coordenação do movimento em Pernambuco promoveu quatro saques a caminhões no interior do Estado (veja na página seguinte).

Lula estará acompanhado pelos ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência). O MST não divulgou quem sentará à mesa com o presidente, mas a expectativa é que toda a direção nacional, formada por cerca de 30 dirigentes deverá comparecer. A principal reivindicação do movimento será mais rapidez na reforma agrária - o MST cobra o assentamento de 90 mil famílias acampadas.

“Precisamos avançar nas questões da reforma agrária para que ela aconteça de forma pacífica”, afirmou Dulci. Segundo ele, o governo vai tratar com prioridade dos acampamentos mais antigos, cujos integrantes deverão ser assentados primeiro.

Sem trégua - João Paulo Rodrigues, um dos coordenadores nacionais do movimento, evitou ontem dar declarações sobre o encontro. Ele tem dito apenas que não há disposição para “trégua”, uma vez que a luta do movimento não é contra o governo, mas contra o latifúndio.

“O MST vai cobrar do governo a aceleração do processo de reforma agrária.

Muito se debate a reforma da Previdência, a reforma tributária, e a agrária acaba ficando para trás”, disse ontem o deputado federal Adão Pretto (PT-RS), do chamado núcleo agrário petista. Segundo ele, nenhuma família foi assentada no Rio Grande do Sul, onde é crescente a tensão entre donos de fazendas e sem-terra.

Pretto disse estar “esperançoso” de que o governo apresente logo alguma solução para as demandas dos sem-terra. Ele contou que anteontem, durante o lançamento do programa Primeiro Emprego, no Planalto, brincou com o ministro José Dirceu: “Reforma agrária também é primeiro emprego.” E ouviu de volta:

“Mas você vai ver o plano que nós vamos apresentar.”

De acordo com assessores do Planalto, Lula deverá ouvir as reivindicações do MST, apresentar seus planos para o setor, mas não pedirá uma trégua. A idéia, segundo assessores, é ter com o MST o mesmo tipo de diálogo que o presidente procura manter com todos os segmentos da sociedade.

Segundo o ministro Dirceu, Lula quer falar sobre o futuro. “O governo vai receber o MST e discutir o futuro, olhar para a frente, procurar resolver os problemas e enfrentar os problemas. Como fizemos no primeiro semestre, com a agricultura familiar.”

RECIFE - Saques a caminhões na Zona da Mata norte por cerca de 90 sem-terra, bloqueio da BR-232, no agreste, com a participação de outros 400, e protesto de mais 50 trabalhadores da zona da mata sul, na sede da Conab, no Recife. À noite, mais um saque, a um caminhão da Sadia, no município de Custódia, no sertão, a 340 quilômetros da capital. As quatro ações, realizadas ontem pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), cobraram do governo a alimentação prometida aos acampamentos.

“Os saques são um recado para Lula”, afirmou Joseneide Rodrigues, 23 anos, do acampamento Bonito, no município de Condado, que ajudou a descarregar macarrão e bolacha de um caminhão saqueado.”Até agora Lula não fez nada, abandonou a gente e ainda chama a gente de afobado, só que a barriga dele está cheia”, desabafou Maria Verônica Silva, outra saqueadora.

A coordenadora do movimento na zona da mata norte, Luíza Ferreira da Silva, disse que desde maio os acampados esperam as cestas básicas do programa Fome Zero. Segundo ela, os roçados cultivados pelas 300 famílias acampadas nos engenhos Bonito, Aliança e Mussumbu não deram boa colheita por falta de chuva.

A coordenadora avisou, ainda, que as ações do MST não param por aqui, e que os saques poderão acontecer até nas ruas, caso o governo não dê terras e alimento aos acampados. “O povo está com fome”, justificou Luíza.

Joseneide recordou que, durante a campanha, “o presidente chorava” quando falava dos sem-terra e garantia que a primeira coisa que faria na Presidência era a reforma agrária. “Se ele fizer reforma agrária nunca mais a gente vai trancar rodovia”, disse.

Impaciência - Na frente do prédio da Conab desde as 9 horas de ontem, os sem-terra dos acampamentos José Arlindo e José Heleno, no município de Água Preta, na zona da mata sul, demonstravam impaciência. “A gente está a zero, não tem nada”, afirmou Sandra Silva, com um bebê no colo. Eles estavam dispostos a sair dali só com comida, mas, à tarde, aceitaram a promessa de que seriam atendidos e se retiraram.

O superintendente regional do Incra, João Farias, que participou de reunião com uma comissão das cem famílias dos dois acampamentos, reconheceu que até agora somente 7 mil cestas foram distribuídas em Pernambuco, que precisa de, no mínimo, 20 mil por mês.

Ele disse compreender as atitudes dos sem-terra. “É complicado pedir paciência a quem tem fome”, afirmou, ao assegurar que o Incra tem se empenhado para agilizar o cadastramento dos acampados no Fome Zero. Uma equipe de 20 digitadores tem trabalhado em rodízio no cadastramento.

“Eles mesmos (os movimentos) estão tendo dificuldade”, observou. “Ficaram de entregar a relação dos sem-terra a serem cadastrados ao Incra até o dia 23 de junho, mas até o momento temos apenas 5 mil.”