Ainda sob críticas por ter se aproximado de um velho aliado - o Movimento dos Sem-Terra (MST) -, o governo Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta nesta semana um novo risco de desgaste, mas agora justamente pelo motivo contrário: o distanciamento de outro antigo companheiro, o funcionalismo público. Entidades de servidores federais prometem paralisar a partir de amanhã pelo menos 40% da categoria e alastrar a greve pelos órgãos da União até meados de agosto, quando pretendem realizar uma nova manifestação em Brasília contra a reforma da Previdência.
O governo diz respeitar a paralisação, mas aposta no esvaziamento do movimento, já que há uma mesa de negociação na Câmara. “O servidor está dividido. Há os que querem dialogar e têm consciência de que a radicalização não ajuda”, disse o vice-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP).
No sábado, as principais entidades do funcionalismo se reuniram em Brasília para reafirmar a paralisação de amanhã e traçar uma estratégia para pressionar o governo. “Será uma greve por tempo indeterminado que dará tempo às pessoas para organizar atos contra a reforma em todo o País e pressionar os parlamentares”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das instituições de Ensino Superior (Andes), Luiz Carlos Lucas.
A direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), à qual é ligada a maioria das entidades, não vai apoiar diretamente a paralisação, mas se diz “solidária” ao movimento. “Não há por que a CUT ser contra a greve, já que ela pode nos ajudar nas negociações com o governo”, disse o presidente da central, Luiz Marinho. A direção da CUT defende mudanças pontuais na reforma e aposta nas negociações feitas na Câmara. Já a maior parte das entidades dos servidores públicos quer a retirada do projeto do Congresso.
Segundo o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), Gilberto Cordeiro Gomes, devem parar a partir de amanhã trabalhadores de setores estratégicos da União, como auditores fiscais, fiscais da alfândega, funcionários da receita federal e da vigilância sanitária. “Esperamos alcançar pelo menos 40% dos cerca de 800 mil servidores dos federais”, afirmou Gomes.
O diretor da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência (Fenasps), Jorge Moreira, sustenta que os funcionários do INSS devem parar em 14 Estados. “A maioria das categorias vai aderir à greve”, afirmou Moreira.
Fôlego - Na avaliação do Planalto, a greve não terá fôlego para prosseguir por um longo período. Além disso, o governo já vem negociando com categorias reivindicações antigas, tratando de questões salariais e planos de carreiras.
O Planalto avalia que os servidores podem estar desperdiçando uma oportunidade de pressão que poderia ser usada em um momento de impasse.
Nessa avaliação, o movimento de paralisação vai conseguir apenas o que o governo já sinalizou que concorda: a negociação.
“Para alguns segmentos do funcionalismo é o tudo ou nada. Quem tem essa opinião e quer forçar a greve vai dar com os burros n’água”, afirmou professor Luizinho.
Na quarta-feira, representantes das centrais sindicais serão ouvidos na comissão especial da reforma e no dia 15 haverá nova reunião dos sindicalistas com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e os líderes partidários. Na mesma linha de evitar confrontos com o funcionalismo, o líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse que o governo respeita a greve. “Evidentemente que o governo não pode apoiar, estimular ou incentivar a greve. Mas o direito à greve está assegurado na Constituição.” Segundo ele, há uma pesquisa de opinião, cuja fonte não revelou, mostrando que “a imensa maioria dos servidores apóia a reforma”.