Lula enfrenta sua primeira greve de servidores
BRASÍLIA - Começa hoje a primeira greve dos servidores federais no governo Luiz Inácio Lula da Silva, contra a reforma da Previdência, mas o Palácio do Planalto está apostando no fracasso da paralisação e não dá o menor sinal de que poderá ceder. Ontem o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, recebeu os líderes do funcionalismo, numa última tentativa de mostrar que está aberto ao diálogo, mas ele próprio admitiu, no encontro, que era muito difícil avançar nas negociações, pois os sindicalistas se opõem à base da reforma, que é a criação de um regime de previdência complementar para os servidores, com estímulo aos fundos de pensão.
“Não concordamos com o diagnóstico que o governo fez para justificar a reforma e, portanto, não podemos concordar com o remédio proposto”, afirmou o coordenador do Sindicato dos Servidores das Escolas Técnicas (Sinasefe), Manuel Porto Júnior. Segundo ele, esse antagonismo é um dos motivos pelos quais os servidores se negam a negociar emendas no Congresso.
Esse também é um ponto de divergência com a direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que adotou a a tática de apresentar emendas para modificar pontos do projeto. A cúpula da CUT formalmente se “solidariza” com o movimento, mas não está fazendo nenhum esforço para que a paralisação dê certo.
Ao contrário, as entidades influenciadas pelo grupo do presidente da CUT, Luiz Marinho, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Seguridade Social (CNTSS), devem aderir apenas parcialmente. Na cabeça da articulação da greve estão os sindicatos de professores universitários (Andes), previdenciários (Fenasp), servidores do quadro geral (Condsef) e do Judiciário (Fenajufe), todos influenciados por correntes de esquerda do PT e pelo PSTU.
Apesar das divisões internas, alguns sindicalistas acreditam que a indignação dos servidores com as mudanças acabe prevalecendo, já que nem os líderes contrários à greve tiveram coragem de defender sua rejeição na última plenária nacional. “Do jeito que está indo, as bases estão atropelando as direções”, afirmou o vice-presidente do Andes, José Domingues.
Medidas preventivas - Embora demonstre tranqüilidade, o governo tomou medidas preventivas para evitar surpresas, no caso de o movimento de paralisação dar certo: a Previdência Social, o setor mais sensível da administração federal, ganhou o reforço de 3.800 novos servidores (equivalente a 10% do quadro atual), que fizeram concurso em março e começaram a ser contratados de um mês e meio para cá. Os concursados seriam empossados de qualquer maneira, mas o governo pode acelerar o processo e até buscar 1.900 funcionários a mais, se precisar.
Além de apostar no racha do movimento dos servidores contra a reforma, os líderes governistas no Congresso têm feito declarações agressivas em relação à greve. “Temos de pensar primeiro no povo. Felizmente, a opinião das entidades de servidores que querem a greve não é a mesma da sociedade brasileira, que deseja melhorias”, disse o vice-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP). “Por isso, o povo não concorda com a greve que está sendo anunciada por uma minoria”, acrescentou.
PORTO ALEGRE - O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), foi vaiado pelos cerca de mil funcionários públicos que participaram, em Porto Alegre, da primeira audiência pública das cinco que vão discutir a reforma da Previdência nos Estados. Mobilizados, portando cartazes e gritando palavras de ordem, os participantes saudaram entusiasticamente políticos que há pouco viam como adversários, como os deputados federais Alceu Collares (PDT) e Ônyx Lorenzoni (PFL), e chamaram de “traidores” os ex-aliados petistas Paulo Pimenta e Maria do Rosário, também deputados federais.